domingo, 17 de março de 2024

Cancelamento na esquerda é falta de solidariedade

 


Cancelamento na esquerda é falta de solidariedade de classe

Opinião

 

CENÁRIO DESAFIADOR PARA A CLASSE TRABALHADORA

As classes exploradas e despossuídas do mundo vivem um cenário pra lá de desafiador neste momento da história humana, século 21, ano de 2024. Ao invés de utopias, as tendências são distópicas (o futuro caminha para ser pior, não melhor). Desemprego de nosso lado, concentração de riqueza e poder maior ainda do lado dos ricos; carências de tudo no lado do povo: alimentação, saúde, educação, moradia, segurança, cultura. Destruição do planeta pelo capitalismo. Belluzzo escreveu nestes dias: caminhamos para um “Estado de mal-estar social”.

Além do drama da emergência climática, cujo efeito é parecido ao de bombas atômicas porque os países ricos e hegemônicos fazem as merdas e as consequências extrapolam os quintais, já que o efeito radioativo e os efeitos climáticos se sentem em todo o globo terrestre (pois felizmente ou infelizmente a Terra não é plana), temos o drama da mudança radical de comportamento humano, fruto do neoliberalismo e das ferramentas de manipulação das big techs: o que era uma utopia de liberdade e reencontros de amigos no início do século, internet e as redes sociais, viraram máquinas de divulgação de ódio e rupturas de amigos e familiares. Nos transformaram em animais baseados em instintos e paixões, ninguém tem mais tolerância nem ouvidos para opiniões diferentes.

Sobre as ferramentas que dominaram o mundo e nossas mentes e comportamentos, ainda temos pessoas que acham que vão vencer os algoritmos dos donos das big techs. Doce ilusão! (amarga ilusão, pois isso impede ações para combater os algoritmos desses poucos donos do poder mundial, poder que extrapola fronteiras de países inteiros: vide o Brexit, todo mundo se ferrou, menos meia dúzia de articuladores da manipulação do povo)

Enfim, após essa introdução de minha leitura do cenário desafiador para a classe trabalhadora mundial, para os 99%, em oposição ao 1%, que pra mim deveria ser identificado claramente como nossos inimigos no mundo humano, vou registrar o que penso sobre a ferramenta social da atualidade que podemos denominar “cancelamento”.

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TERÍAMOS AVANÇADO NOS DIREITOS DO POVO SE HOUVESSE CANCELAMENTOS COMO HOJE NA CONSTRUÇÃO DO NOVO SINDICALISMO?

É óbvio que gostaria de ir direto para o ponto sobre o que penso dessa ferramenta desumana de cancelar pessoas, mas para poder ao menos pensar a respeito olhando para trás, eu preciso me perguntar se haveria o Partido dos Trabalhadores (1980), a Central Única dos Trabalhadores (1983), o Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem-Terra (1984), o movimento pelo fim da ditadura e pela volta da democracia “Diretas Já” (1985), e se haveria os militantes de esquerda porretas que contribuíram decisivamente na Constituinte para a Constituição Cidadã de 1988... acho difícil!

Fico pensando se teríamos uma Central com 17 (dezessete) correntes e forças políticas como a CUT chegou a ter na sua origem ou mesmo se teríamos criado a Articulação Sindical como a tendência hegemônica em congressos e fóruns democráticos, e com isso em diversos sindicatos de categorias importantes, caso o fenômeno do cancelamento e do banimento de qualquer voz dissonante fosse a regra naquele período...

Minha opinião: nunca! Até porque a estratégia da Articulação para se constituir como maioria no movimento sindical foi justamente juntar pessoas e grupos que já não estavam comprometidos com as correntes do chamado centralismo democrático: convergência socialista, os comunistas e outras forças políticas com longa trajetória de lutas no mundo.

Tenho a leitura racional que jamais teria passado a minha vida contribuindo para as lutas e conquistas da Articulação Sindical se não fosse a paciência da dirigente sindical Deise Lessa à época que me conheceu numa agência do Banco do Brasil. A ética sindical daquela geração dela ouvia e respeitava pessoas que pensam diferente! Não fosse essa ética daquela época da Articulação e do Novo Sindicalismo, eu teria ficado nos grupos que viviam me convidando para as reuniões que só falavam mal da diretoria do sindicato.

A prática de se buscar o consenso progressivo de todas as formas possíveis, antes de simplesmente contar votos e ter vitórias de Pirro no campo da classe trabalhadora, dividindo forças políticas o tempo todo, não resistiria a meia dúzia de cancelamentos à época, fazendo de conta que “esqueceram” de convidar fulano ou cicrana para um fórum importante.

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Na atualidade, não querem minha opinião sequer sobre uma das temáticas mais complexas do movimento sindical e que sei alguma coisa – gestão de autogestão em saúde – e outro dia, numa manifestação de rua, conversando com duas lideranças do meu sindicato de base, me perguntaram se eu havia gravado um vídeo sobre os 100 anos do Sindicato e ao dizer que ainda não, me disseram que eu iria ser contatado... pensei comigo no dia: doce ilusão! (provavelmente eu vá ser lembrado quando morrer... uma lembrança burocrática, talvez)

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A ESQUERDA NÃO DEVERIA ABRIR MÃO DE QUADROS COM HISTÓRIA E CONHECIMENTO POR CAUSA DE PICUINHAS DA BUROCRACIA

Após uma vida vivida dentro do movimento sindical bancário brasileiro, desde adulto jovem com 18 anos até os 50 anos de idade, a gente pode dizer que viu muita coisa no seio do movimento social de nosso país, de nossa classe trabalhadora. Modéstia à parte, eu vivenciei muitos momentos importantes e diria até decisivos para a nossa história, senão da classe, mas também, ao menos da categoria, e com certeza do segmento da categoria chamado bancários do Banco do Brasil.

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“Não tem que tolerar a religião dos outros, tem que respeitar” (Frei Betto)

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Antes de terminar esta reflexão, deixo claro algumas coisas:

É evidente que escrevo porque em mim dói alguma coisa também, mas falar sobre o tema cancelamento é uma necessidade inadiável no campo da esquerda. Faz tempo que essa “ferramenta” vem enfraquecendo e diluindo nossas frentes de esquerda nas lutas centrais contra o verdadeiro inimigo de nossa classe. Isso precisa parar, sem a recuperação da solidariedade e do fazer político verdadeiro, onde todas as pessoas e grupos sejam ouvidos e os debates ocorram com a tentativa de construção de unidade, as forças extremistas à direita, que são vozes ou ferramentas dos donos do poder (1%), e estão sendo organizadas de forma mundial, vão nos cancelar a todos, a todos.

Eu não sou e não quero ser candidato a mais nada, não quero representar ninguém, já valeram as duas décadas de representação desde a sindicância de condomínio até as representações sindicais no movimento dos bancários. Aliás, nunca me coloquei em disputas de candidaturas a nada, nunca, sempre que fui representante eleito de algum grupo é porque esses grupos debatiam e me convidavam, me procuravam para pedir que eu disponibilizasse meu nome para aquela causa (muitas delas com um sacrifício pessoal imenso).

Então, repito, escrevo sobre cancelamento porque tenho opinião e experiência de décadas na luta da esquerda, quero o bem de nosso povo, e afirmo que essa ferramenta vai inviabilizar nossas vitórias nas lutas de classe. Sozinhos ou de bolha em bolha de gente de ideias idênticas não vamos a lugar algum na luta de classes.

NÃO SE JOGA FORA CONHECIMENTO E EXPERIÊNCIA

O movimento organizado tem uma característica extraordinária de criar bons quadros políticos com conhecimentos de mundo formados no dia a dia das lutas. Os conhecimentos de um dirigente sindical, político, estudantil ou de outros movimentos específicos – identitários ou por moradia e pela terra pra plantar etc – são conhecimentos gerais e muitas vezes técnicos que não se adquirem nos estabelecimentos formais de educação.

Por isso acho um desserviço essa ferramenta do banimento, cancelamento, esquecimento, invisibilização e retirada do acesso de lideranças de qualquer movimento aos espaços de organização das próprias lutas em si. É uma prática pouco inteligente. E isso vem se ampliando exponencialmente ano após ano, e na última década a coisa chegou aos limites da insanidade.

Por décadas, li e estudei e tomei conhecimento do pensamento de lideranças e forças políticas diversas da minha porque os via falando, defendendo as ideias deles, porque tinham direito a escrever teses nos congressos, tinham espaço para falar nas assembleias, que eram presenciais. Agora é raro, cada dia mais impossível, ouvir alguém falar algo diferente do que a direção de determinado sindicato, grupo, movimento pensa. Pior ainda, dentro da mesma força política, se a pessoa perguntar ou questionar algo e a chefa ou chefe não gostar, adeus àquela vítima... ela será esquecida e nunca mais terá existido na face da Terra.

(e pensar que a referência negativa na Articulação Sindical era o chamado stalinismo, com aquele lugar-comum de até apagar fotos de lideranças que viraram desafetos etc)

Agora não se fazem mais teses, não se fazem mais assembleias e congressos presenciais (são raros), o que impera são as redes sociais das big techs, que permitem cancelar e bloquear ideias diferentes e invisibilizar vozes e pensamentos assim como as big techs fazem com as esquerdas mundo afora...

NÃO SE ACHAM MILITANTES DE ESQUERDA AOS MONTES POR AÍ (ENTÃO RESPEITEM OS QUE EXISTEM)

Às vezes, militantes são grandes especialistas em temas e questões que estudaram e foram acumulando conhecimento anos a fio, são o resultado das nossas lutas contra os verdadeiros inimigos de nossa classe, mas como têm opiniões fortes, muitas vezes não concordam com a proposta ou tese que o/a líder daquele espaço defende, e então são vetados, banidos de qualquer fórum que vá tratar daquele tema. Quem ganha com isso? O nosso lado da classe?

Digam se isso não acontece no seu espaço de militância hoje em dia.

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FALTA DE SOLIDARIEDADE E CUMPLICIDADE DAQUELAS PESSOAS QUE NÃO FAZEM NADA PARA QUE OS CANCELAMENTOS ACABEM NA ESQUERDA

Penso que não adianta ficar chorando o leite derramado, tivemos na última década muitas divisões em nossa classe trabalhadora, coincidentemente após aquelas manifestações de junho de 2013 - movimentações sabidas hoje que não foram “espontâneas” porque eram parte de um processo global de guerras híbridas.

Temos que retomar os diálogos, a paciência de ouvir, temos que respeitar as opiniões diferentes, e não “tolerar” como diz Frei Betto, temos que nos reunir em fóruns de nossa classe e construir consensos que evitem que as extremas-direitas, o movimento fascista global, nos derrotem, derrubem ou inviabilizem governos como o do presidente Lula.

Entendo que é uma obrigação ética ter mais solidariedade no campo da esquerda. Quantas lideranças forjadas em décadas de lutas estão por aí, apagadas, canceladas, invisibilizadas, por parte das direções dos movimentos sindicais, partidários, estudantis etc?

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Eu cobro responsabilidade de toda aquela e aquele que não se posiciona em seu espaço de poder e representação pelo fato dele/a saber que alguém está cancelado e não fazer nada a respeito. Quando eu fazia a fala inicial aos novos funcionários do BB explicava a eles que nunca achassem normal serem assediados, a violência organizacional, a humilhação etc. Não se pode achar “normal” apagarem da história uma militância e não se questionar internamente essa atitude... isso está errado na ética política da esquerda, que quer mudar o mundo hegemonizado pelo capitalismo e por seus agentes.

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A UNIDADE É A MELHOR CHANCE PARA A ESQUERDA

Eu me dirijo aos dirigentes bancários e militantes tanto da ativa quanto aposentados em relação à luta para que esses cancelamentos deixem de acontecer em suas bases sindicais.

Por que será que uma liderança local, que contribuiu de forma importante para a nossa história, nunca mais apareceu em debates e eventos de seus fóruns? Pode ser que ela tenha decidido descansar mesmo, nada mais justo, mas pode ser que ela nunca mais tenha sido convidada a contribuir com seus conhecimentos e experiências para os desafios atuais da direção do movimento por algum motivo pessoal de alguém ou até sem motivo. Isso é justo, é legítimo, é ético? Pensem a respeito.

Dias atrás, fui cobrado para me posicionar sobre a eleição da Cassi, autogestão em saúde dos funcionários do Banco do Brasil. É algo no mínimo inusitado. Desde as eleições de 2020, fui “esquecido” pelo meu sindicato de base na hora dos debates dos fóruns para se debater os temas. Isso se repetiu em 2022, esqueceram de mim na primeira semana de dezembro de 2021. E estamos com eleições em 2024. O que penso sobre isso?

Como ninguém quis ouvir o que eu pensava sobre o tema, e eu conheço alguma coisa sobre a Cassi e autogestões e modelo de saúde, e como eu teria contribuições a fazer, achei descabido me cobrarem posicionamento. Fui cancelado pelo meu sindicato, praticamente com foto apagada como aquelas da URSS, e entendi que o melhor seria seguir morto politicamente – CPF cancelado -, apesar de estar vivo civilmente e biologicamente.

Estive em um fórum de pessoas construindo conhecimentos sobre autogestão nesta semana e me pareceu que eu tive algo a contribuir, fiquei feliz e não fiz mais do que me exigiria a ética política de passar adiante o conhecimento que adquiri nas lutas da classe trabalhadora.

Sempre, sempre estive à disposição de todas as entidades sindicais, políticas, organizativas e outras para contribuir com o pouco que sei de alguns temas e assuntos que adquiri saber nas lutas diárias do movimento sindical. Sigo à disposição no que puder contribuir.

Quanto à eleição da nossa autogestão, eu tenho opinião, como ser politizado aprendi que é importante se posicionar, estudando o tema antes se necessário, e achei muito ruim o nosso campo da esquerda se dividir dando chances à chapa do outro campo. As bases sociais brasileiras estão muito polarizadas. Acho um risco. Espero que as forças mais à esquerda ganhem e que as chapas 2 e 55 não voltem para a gestão da nossa Caixa de Assistência.

Mas se realmente quisessem minha opinião, poderiam ter me chamado em qualquer fórum sindical que ajudei a fortalecer nas últimas décadas. Eu sigo à disposição do movimento sindical.

William Mendes


quarta-feira, 13 de março de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 13 de março de 2024. Quarta-feira.


Dias entre coisas amenas e coisas graves...


ESTUDOS SOBRE SAÚDE SUPLEMENTAR

Andei lendo nos últimos dias um livro técnico sobre saúde suplementar. Imagino que poucas pessoas leem um livro desse tipo, inclusive o segmento que trabalhe com saúde suplementar. A vida é muito corrida e provavelmente o tempo das pessoas que estão na fase de venda de suas forças de trabalho seja gasto na correria de fazer coisas automáticas do cotidiano, com pouco tempo para estudo e reflexão. E ainda tem a opção por ficar horas na internet nas horas nas quais as pessoas não estariam trabalhando...

O livro é muito bom na questão de conceitos técnicos sobre a área que descreve e o autor escreve bem. Como sou um homem de esquerda percebi o tempo todo o quão liberal é o autor, defensor incansável do livre mercado, do mercado que se regula sozinho e do quanto deve-se evitar que governos interfiram em mercados. O livro é sobre saúde suplementar e o autor acredita piamente que saúde é uma mercadoria. Tudo bem, isso faz parte da linha hegemônica da sociedade na qual vivo. 

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SAÚDE NÃO É MERCADORIA

Claro que discordo dessa leitura: saúde não é mercadoria. Mas não posso deixar de estudar e conhecer a realidade por causa disso.

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Não vou conseguir terminar a leitura antes de um bate-papo que fui convidado a fazer com gestores e operadores de uma autogestão em saúde nesta semana. Mas depois vou terminar o livro, só tenho a ganhar com a leitura, com a atualização de um conhecimento técnico que adquiri por representar um grande segmento de pessoas quando fui gestor de uma autogestão em saúde. Soma-se a esse conhecimento de sistemas de saúde o fato de eu ter estudado por um tempo áreas de saúde, o que ampliou minha visão sobre o tema.

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POLÍTICA NO BRASIL (CHEIRO DE IMPUNIDADE NO AR)

Vendo a movimentação do mundo da política, eu fico pensando com meus botões o que se poderia ler nas entrelinhas do que é dito e narrado pelos mais diversos segmentos da sociedade e mais diversificados meios de comunicação. O momento histórico da sociedade humana é hegemonizado pela pós-verdade, pela capacidade dos agentes de imporem suas narrativas sejam elas baseadas em fatos e evidências ou pura ficção, mentira, opinião - fake news e desinformação em massa.

Eu estudo um pouco de comunicação, política e história faz umas três décadas, pelo menos. Algumas coisas que a gente vai vendo se repetir ao longo da vida vão ficando chatas, previsíveis e nos fazem avaliar que certas coisas acontecidas não foram acasos, foram planejadas e esperadas pelos agentes envolvidos. A não prisão do genocida que ganhou de presente em 2018 a presidência da república de um dos maiores países do mundo me dá a impressão que é por algum motivo que não querem dizer: querem que ele fuja.

As desculpas são as mais diversas para se adiar a prisão do líder da tentativa de novo golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023 e permanente líder e incentivador de dissolução da frágil democracia brasileira, e as desculpas são defendidas pelos mais diversos segmentos à esquerda, centro e direita. O espectro político ao qual pertenço, a esquerda, está repleto de gente que acha que o criminoso deve ficar solto enquanto durarem as fases intermináveis de investigações e oitivas etc etc. Mesmo enquanto ele e seus "parsas" destroem provas e ameaçam prováveis testemunhas.

Eu tenho a impressão que não querem e não vão prender Bolsonaro. Estão com medo de prenderem o sujeito, é o que leio nas entrelinhas. Medo ou não querem, para contemporizar com a elite golpista.

Estão todos esperando e torcendo para que ele fuja, facilitando a vida dos segmentos políticos e sociais que não pertencem aos seculares círculos do poder real no Brasil - a casa-grande e o entorno comprado por ela nas estruturas do Estado - segmentos que preferem há séculos adiar o confronto armado e definitivo entre a elite canalha e a massa de gente explorada e miserável - afrodescendentes e os demais pobres excluídos dos direitos da cidadania. A esquerda, a intelectualidade progressista, as lideranças de movimentos sociais sabem que novos golpes virão, que a injustiça vai seguir aumentando contra a nossa gente fora do 1%, mas não querem organizar o confronto final entre nós e eles. E assim eles sempre darão novos golpes e novas tomadas de poder na marra. 

REVOLUÇÃO À DIREITA NO BRASIL

Eu tenho uma leitura que o regime liderado por Temer e Bolsonaro, por sete anos, realizou uma revolução, uma revolução conservadora e também reacionária, conservadora no sentido de manutenção absoluta do poder desses segmentos seculares de todas as estruturas do Estado nacional, públicas e privadas, e reacionária no sentido de desfazer as conquistas que haviam sido conquistadas pelas massas e classes subalternas em mais de um século de lutas em todas as áreas da cidadania. 

Bolsonaro, seja um imbecil ou não, um desqualificado ou não, liderou a revolução à direita que desfez nossos direitos políticos, econômicos e sociais e ele não fez nada do que fez "dentro das quatro linhas". Tudo foi na força, na imposição, de forma autoritária e o nosso lado ficou vendo, ameaçando reagir de forma insuficiente e burocrática e chorando pelos cantos.

É o que penso, sinceramente. Espero muito ser uma leitura exagerada e errada. Errar é humano. Ficarei muito feliz se tudo correr conforme deveria correr, os processos acontecerem, os direitos de defesa e as condenações desse criminoso e de sua corja de criminosos de longa data serem respeitados etc, e torço para ver a justiça prevalecer ao final como deveria acontecer com qualquer pessoa. 

NOSSA HISTÓRIA É DE IMPUNIDADE PARA A CASA-GRANDE

Mas a história da impunidade para essa gente da casa-grande fala mais alto no Brasil. 

Aqui só pretos e pobres vão presos e morrem diariamente em penas de morte decretadas pelos capitães do mato fardados, morrem nas mãos da justiça presos sem nunca serem sequer julgados, perdem direitos, vivem na merda... essa é a história da gente da nossa classe, da classe trabalhadora, a gente que tem cor - que tem que justificar a cor! -, gente que tem o alvo desenhado em si desde que nasceu.

Feito o registro de minhas impressões e reflexões do dia.

William


Post Scriptum: é engraçado, pra não dizer que é triste... nesta semana de eleições em uma entidade corporativa que conheço, tem três chapas concorrendo. Em duas delas, tem gente que praticou mentiras e fake news contra mim, e estão por aí livres leves e soltas. As forças políticas das três chapas já se beneficiaram de alguma forma de invenções criadas para assassinar minha honra e história. A política é assim. Não deveria ser, mas é assim.


segunda-feira, 11 de março de 2024

Cuba (IV)


Heróis cubanos: Cuba preserva seu passado.

Refeição Cultural

Osasco, 11 de março de 2024. Segunda-feira.


DIFERENTE DO BRASIL, EM CUBA O GOVERNO FALA DA HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA DO PAÍS TODOS OS DIAS!

Cuba e Brasil, Brasil e Cuba. Dois países com histórias seculares de dominação imperialista, dois países com uma violenta história de escravidão dos povos do continente africano, dois países com histórico de extermínio dos povos originários. Cuba e Brasil, países que mexem com o meu coração, com os meus sentimentos.

Até antes do golpe de Estado de 2016 contra a presidenta honesta Dilma Rousseff (PT), mesmo sendo um homem politizado de mais de quarenta anos de idade, eu tinha uma certa inocência política daquela mais comum no movimento organizado e nas pessoas no campo da esquerda, aquela inocência que prefere acreditar que nada de mal vai acontecer ao invés de analisar friamente a realidade e os dados materiais e se preparar para o golpe, a guerra, a morte lutando.

NO BRASIL, ACREDITA-SE DEMAIS NAS "INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS" E ELAS PARTICIPARAM DO GOLPE DE ESTADO EM 1964 E 2016

04/03/16, nas ruas defendendo
o governo Dilma.
 

Meu campo político no Brasil até que lutou contra a nova fase de golpes contra governos democráticos nas Américas e Caribe do último período, ficou nas ruas em pequenos grupos gritando "Não vai ter golpe!", duvidando que fossem prender o Lula, não acreditando que Bolsonaro poderia ser presidente do país. 

Boa parte da esquerda brasileira acreditava e segue apostando que as instituições vão funcionar e que não haverá golpe ou ruptura democrática de novo...

31/03/16, nas ruas contra o golpe,
52 anos depois de 1964.

Eu sigo com a leitura que tenho desde 2022 e 2023 de que nosso governo Lula terá dificuldade de terminar o mandato sem sofrer nova tentativa de golpe de Estado ou algum tipo de atentado contra o próprio presidente Lula. Concordo até com o jornalista Brian Mier (ouvi dele a ideia hoje na TV247) que o governo brasileiro deveria se informar com os governos cubano e venezuelano a respeito de proteção contra golpes e atentados, já que esses governos enfrentam isso com frequência.

17/04/16, nas ruas contra o golpe,
as instituições não funcionaram...

NO BRASIL, A ESQUERDA "PAGA PAU" PRA JUIZ DE DIREITA... ACHO ISSO UM EQUÍVOCO!

As pessoas do meu campo da esquerda até viraram tietes de um certo ministro da Suprema Corte colocado lá pelos traidores da pátria em 2016 e chamam ele por apelido... acho isso ridículo, um absurdo! 

O cara (o juiz apelidado) enfrentou os bolsonaristas em 2022 para salvar a própria pele, a pele deles daquela Corte, que aliás endossou o golpe de 2016 que desgraçou o país e a vida do povo brasileiro e manteve Lula preso numa masmorra por 580 dias. Mas somos assim aqui no Brasil.


EM CUBA, JOSÉ MARTÍ É A REFERÊNCIA, MARTÍ E FIDEL

Estátua de José Martí, em batalha pela
libertação de Cuba do domínio espanhol.

O povo cubano, desde o século 19, sofrendo os mesmos males e violências de todos os povos explorados das Américas e Caribe, se organizou e se rebelou para lutar por sua liberdade e autonomia em 1868, depois mais algumas vezes até 1895, quando morreu em combate uma das figuras intelectuais mais brilhantes que a espécie humana já produziu - José Martí -, e em 1898 os cubanos se libertaram dos espanhóis e já se deram conta de que não haviam se libertado do imperialismo. 


Nova luta de libertação começava, desta vez contra o mais novo império do Norte - os Estados Unidos da América -, que já estendiam suas garras sobre a maior das ilhas das Antilhas, Cuba.

EDUCAÇÃO CUBANA - Na minha opinião, várias coisas separam a história do povo cubano da história do povo brasileiro, a considerar do século 19 adiante: a Educação é uma delas. 

Os ideais martianos de liberdade e autonomia são a base da educação cubana há 150 anos. E após a Revolução, a história e a cultura fazem parte da pedagogia da educação no país.

Quando os jovens liderados por Fidel Castro se organizaram e decidiram que era a hora de enfrentar a ditadura de Fulgencio Batista em 1953 - Batista havia dado um golpe de Estado em 1952 e era bancado pelos Estados Unidos da América -, os jovens cubanos universitários eram martianos. 

Revolución es sentido del momento histórico...

Os jovens estudantes tinham como referência José Martí e a história das lutas de libertação do povo cubano desde o século anterior. E aquele processo de lutas martianas lideradas pelos jovens de 1953 no ataque ao Quartel Moncada culminou com as lutas revolucionários a partir da Sierra Maestra entre 1956 e 1º de janeiro de 1959, quando triunfa a Revolução Cubana.

Patria o muerte!

A HISTÓRIA FAZ PARTE DO COTIDIANO CUBANO

Eu acompanho as notícias de Cuba com mais atenção desde que me preparei para conhecer o país em 2023. É evidente que a forma como faço para ler do Brasil as notícias diárias da Ilha me dá a versão de um lado da história - a do regime socialista - porque leio e ouço os veículos de comunicação do governo cubano e do Partido Comunista Cubano. Mas leio críticas ao regime também, quando leio figuras como Leonardo Padura, escritor cubano importante.

No entanto, para ler e ouvir o outro lado - as versões antirrevolucionárias -, basta olhar o restante da mídia hegemônica e as mídias que os algoritmos das big techs do imperialismo apresentam a todos nós. Sempre será desproporcional a guerra cultural entre a fala da esquerda e ou dos pequenos grupos contrários ao sistema capitalista e as narrativas que falam para bilhões através das mídias do grande capital. 

O ódio à esquerda é o que mais dá likes e monetização para os direitistas e lucro para elas, as big techs.

Museu da Denúncia em Havana, Cuba.

CONHECER E ESTUDAR A HISTÓRIA É ESSENCIAL PARA A LIBERTAÇÃO DO POVO COM PASSADO COLONIAL

Enfim, o tema que me deu vontade de comentar ao refletir sobre os dois países que mexem com o meu coração - Brasil e Cuba - é a questão do momento - os 60 anos do golpe de 1964 no Brasil e os 65 anos da Revolução Cubana em 1959 - sobre falar ou não falar do passado, da história, de acontecimentos que marcaram para sempre a vida de um povo após ideias e fatos que mudaram a história.

No Brasil, o nosso governo decidiu e defende a ideia de que não se deve fazer manifestações e eventos institucionais e ou das principais organizações sociais de nosso campo da esquerda em relação aos 60 anos do golpe de Estado que colocou o país e o povo brasileiro por mais de duas décadas sob uma ditadura violenta, financiada e apoiada pelos Estados Unidos da América e pela elite do país.

Para ser médico revolucionário ou
revolucionário, tem que haver Revolução! (CHE)

Eu considero essa atitude um equívoco do nosso governo neste momento da história. O presidente Lula é a nossa maior liderança política em toda a história do Brasil e eu sei porque o presidente acha melhor contemporizar com as forças conservadoras e de extrema-direita no país, pois Lula sabe que sua correlação de forças é muito aquém do que precisaria para seguir governando e entregando minimamente aquilo que se comprometeu a fazer, e está fazendo, por mais que a comunicação do governo não consiga se sobrepor à comunicação dos inimigos, que têm o suporte das big techs com eles.

Em Cuba, todos os dias - eu disse TODOS OS DIAS - os veículos de comunicação do país trazem matérias, reportagens, efemérides sobre os heróis do povo cubano, sobre datas históricas que mudaram a vida do povo de alguma forma, não há uma escola no país que não tenha o busto ou um quadro destacando a figura de José Martí, Apóstolo da Independência do país, e isso faz toda a diferença na construção de uma mentalidade ativa e altiva do povo cubano desde a mais tenra idade. 

Lançamento do livro de Maria Leite em 2023.

Ao ler o livro da professora Maria Leite - Cuba insurgente: identidade e educação (2023), no qual a especialista apresenta estudos de quatro décadas sobre a pedagogia cubana, fica claro para mim que sem o estudo da história o povo cubano jamais teria resistido até hoje às seis décadas de bloqueio criminoso por parte dos EUA para causar miséria e humilhação ao povo que se negou a ser uma ilha de exploração dos ricos e da máfia estadunidense. Ler sobre o livro aqui.

Fidel Castro e os revolucionários
eram seguidores das ideias de
liberdade de José Martí.

Já estive em Cuba duas vezes, por duas semanas em cada vez que estive lá, e conversando com o povo cubano percebe-se com facilidade que eles têm uma educação com saber histórico anos-luz à frente do saber histórico de nosso povo brasileiro, para o qual sempre foi negada a educação libertadora defendida por Paulo Freire e outras figuras importantes da educação brasileira.

Homenagem a Che Guevara, 
em Santa Clara. O passado faz
parte da história das lutas do povo.

Quando vejo o meu governo defendendo que não falemos sobre a história, sobre a trágica história do golpe de Estado de 1964, que quase se repetiu com sucesso em 8 de janeiro de 2023, com Lula já eleito contra toda uma máquina de dinheiro e fraudes para que Bolsonaro e sua casta de militares e empresários seguissem no poder, quando vejo um equívoco desse em nosso governo, me dá um aperto no coração, uma dor no peito, que não me mata porque me acostumei a isso ao viver entre lutas, vitórias e derrotas por quase três décadas de movimento sindical e político.

José Martí,
Apóstolo da Independência.

Não se pode negar ou esconder o passado, ainda mais quando vivemos uma era onde as falsas narrativas estão vencendo o tempo inteiro porque os meios pelos quais a população mundial tem acesso a informações e desinformações são os meios concentrados das big techs, que fazem parte da guerra cultural mundial do 1% contra os 99%.

Museo de la Denuncia, La Habana.

Viva Cuba e sua aposta na educação e na preservação da história de lutas de seu povo!

Aliás, não deixem de visitar em Havana o Centro Fidel Castro Ruz e o Memorial da Denúncia, são espaços fantásticos de educação e história.

Centro Fidel Castro Ruz, Havana.

E viva o Brasil e o povo brasileiro, viva o presidente Lula, que tenho como a maior figura política de nossa história!

Viva Lula e o povo brasileiro!
Foto: Ricardo Stuckert.

Mas temos que falar e refletir sobre a história para aprender com ela e a partir das referências históricas nos organizarmos para enfrentar os novos desafios pela manutenção dos direitos do povo e pela manutenção de algo que se possa chamar de democracia, não a democracia dos donos do poder econômico, pois isso nunca foi democracia.

William Mendes


Post Scriptum: na minha opinião, o governo Lula está sob ataque organizado da extrema-direita neste momento (guerra híbrida) e acho que Lula tem que ir pra cima e nos chamar para os embates com a direita fascista. A economia cresceu, direitos sociais estão voltando, emprego aumentando e a democracia está sendo exercida. Pra cima deles, Lula!

Post Scriptum II: o texto anterior sobre as viagens a Cuba pode ser lido clicando aqui.


sexta-feira, 8 de março de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 8 de março de 2024. Sexta-feira.


Tentei escrever por mais de uma hora. Não rolou um texto como queria. Deixei pra lá. Minha cabeça estava a mil com um monte de coisas. O texto misturava alhos com bugalhos.

Aí pensei em sair para caminhar. Faço isso quando preciso espairecer as ideias. O céu carregado com nuvens negras me avisava que poderia me pegar no meio de uma tempestade.

Sentei-me de novo em minha máquina de escrever digital e pensei novamente o que poderia registrar, já que sinto necessidade de escrever alguma coisa. Humanos são animais que contam coisas, narram histórias, sentimentos, ideias, que por enquanto leem e escrevem.

Nesses dias ando lendo e escrevendo sobre Cuba, voltei de lá semana passada, estou deglutindo e digerindo informações e impressões a respeito do país que resiste bravamente há mais de seis décadas ao bloqueio econômico assassino do império do norte, bloqueio que vai alcançando o objetivo de causar uma miséria insuportável a 11 milhões de pessoas que optaram por outro modo de organização comunitária: o socialismo.

Tenho uma birra enjoada de pessoas que começam a questionar o regime socialista do povo cubano destacando a dificuldade econômica atual do país... então, tá! Viva a desgraça do capitalismo, da farsa da democracia liberal dos poucos ricos fodendo as multidões de miseráveis "livres" para virarem novos bilionários! 

A maior parte das críticas é de um simplismo que desconsidera o mais básico do básico: foder um povo economicamente é inviabilizar a vida daquele povo, seja no capitalismo, seja no socialismo, seja no regime que for.

Por esses dias, também terei que me dedicar a leitura e atualização de meus conhecimentos a respeito de sistemas e modelos de saúde suplementar porque me pediram para contribuir sobre o tema com uma palestra e eu não teria como negar porque é um compromisso ético que assumi comigo mesmo de passar adiante o que aprendi enquanto era representante da classe trabalhadora. 

Compartilhar conhecimento de forma honesta e gratuita é o mínimo que posso fazer aos meus pares do mundo do trabalho por terem me dado tudo o que tenho hoje.

DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES

Durante muito tempo, datas importantes para nós do mundo do trabalho eram datas nas quais eu tinha agenda cheia porque pertencia a algum tipo de organização social formalmente. 

Por mais que minha realidade hoje seja outra - sou um cancelado do movimento sindical que ajudei a fortalecer -, o corpo e a mente da gente ficam com o cacoete de seguir achando que a gente deve cumprir aquelas agendas que as organizações sociais definem em dias como hoje, 8 de março.

Aí eu me pergunto: deixo de utilizar meu parco tempo de preparação para falar sobre um tema que estou desatualizado e devo estudar para contribuir de forma satisfatória no evento ao qual me comprometi ou devo ir fazer volume de mais um ser humano na manifestação paulistana do 8 de março na Avenida Paulista? 

Para mim, essa questão sempre foi um dilema, mesmo quando eu tinha mil coisas sob minha responsabilidade em mandatos de representação e me sentia culpado se não fosse às atividades de rua do movimento.

ATO NA PAULISTA 

Enfim, acabei registrando alguma coisa sobre os sentimentos que vão em minha cabeça neste momento.

Vou comer alguma coisa e fazer volume na manifestação do 8 de março. Respeito muito a longa trajetória de lutas das mulheres. Era sobre isso que iria escrever, mas hoje não rolou.

William


Post Scriptum: estive na manifestação do dia internacional das mulheres por cerca de três horas. Choveu bastante. Gostei do ato.

Post Scriptum II: a questão do tempo e das escolhas... eu iria no sábado 9/03 a uma reunião itinerante nas bases do diretório do PT do Butantã, são reuniões nas comunidades para levantar demandas, ouvir as pessoas e organizar politicamente o povo. Vou ter que priorizar meus estudos para o bate-papo sobre autogestão em saúde que farei na semana que vem.


quarta-feira, 6 de março de 2024

Cuba (III)


Frei Betto em Cuba (2024)

Refeição Cultural

Osasco, 6 de março de 2024. Quarta-feira.


Uma das presenças marcantes na 32ª Feira Internacional do Livro de Havana, em Cuba, ocorrida neste mês de fevereiro, foi a de Frei Betto. O intelectual brasileiro tem uma longa história de solidariedade e amizade com Cuba e o povo cubano. Ele é muito querido no país socialista.

Ter estado em uma feira do livro na qual estava presente Frei Betto foi algo marcante. No meu caso específico, aumentou a minha impressão de que sou um homem de sorte, pois ao estar em Cuba com uma amiga do escritor - Telma Araújo -, tive a oportunidade de ouvir duas palestras dele e uma entrevista, além de conversarmos um pouco durante três dias.

Instituto Superior de Relaciones Internacionales
"Raúl Roa García" (ISRI).


Palestra para estudantes de diplomacia

O primeiro contato com essa figura extraordinária foi no Instituto Superior de Relaciones Internacionales "Raúl Roa García" (ISRI), numa palestra que o Frei ministrou para estudantes da carreira diplomática cubana e demais convidados.

O conteúdo da palestra foi inesquecível! Muita aprendizagem. Um conceito belíssimo dito por Frei Betto foi este: "Não tem que tolerar a religião dos outros, tem que respeitar".

Também me marcou o ensinamento de que devemos sempre levar um livro conosco para onde quer que tenhamos que ir, pois mesmo imaginando que não teremos tempo de ler, a gente acaba lendo, e isso fará a diferença em nossas vidas.

Depois o Frei explicou a diferença entre Ética (Universal) e Moral (usos e costumes locais), falou sobre a questão da "Ignorância invencível" e muitos outros conceitos interessantes, inclusive a questão da ética = pathos, e a visão ética de se colocar no lugar dos outros.

Hotel Nacional de Cuba.


Encontro com Frei Betto no Hotel Nacional

Já no segundo encontro com Frei Betto, no Hotel Nacional, ele me presenteou com um livro que havia ganhado e já havia dado uma olhada nele, pois é um livro que fala sobre Cuba e o Frei disse que ao saber que estou estudando a história do país achou que o livro teria mais utilidade comigo. Fomos juntos para a Fortaleza San Carlos de la Cabaña, local da Feira do Livro, pois ele havia convidado Telma para ir de carona consigo.

Foi fácil compreender a doação do livro e o desprendimento do Frei, pois no dia anterior havia ouvido a explicação sobre o desprendimento como uma qualidade nas pessoas. Ernesto Che Guevara e Francisco de Assis foram os exemplos citados na explicação. Francisco de Assis ao fazer a opção pelos artesãos prejudicados pelos teares de seu pai e Che ao abrir mão do conforto e sucesso como herói e ministro de Cuba, e de sua esposa e filhos, para lutar por outros povos explorados, lutar pela revolução mundial.

Talvez depois faça uma postagem com a síntese do que anotei das palestras de Frei Betto aos estudantes da diplomacia cubana e na Feira do Livro.

Frei Betto na 32ª Feira Int. do Livro de Havana.


Palestra de Frei Betto na Feira do Livro de Havana

Num terceiro evento com o Frei Betto, Telma Araújo e eu passamos boa parte do dia com o dominicano. Novamente, pude aprender mais coisas com o mestre ao ouvir uma entrevista dele.

"A pessoa não está navegando na internet, ela está naufragando porque é uma leitura diferente dos livros que têm início, meio e fim" (Frei Betto)

Amigas e amigos leitores, a viagem a Cuba para participar da 32ª Feira Internacional do Livro de Havana foi uma experiência de provocação intelectual e de muita reflexão. Sempre tive a humildade de confessar minhas imensas lacunas culturais, pois passei boa parte da vida adulta sem tempo para ler tudo que gostaria.

Já estou firme na leitura da biografia
de Frei Betto, com prólogo de Fidel Castro.

Não havia lido ainda um livro de Frei Betto, por exemplo. Mas vejam como nunca é tarde para a leitura e para a busca por novos conhecimentos. Já li o primeiro livro dele ¿Todavía es útil el Marxismo?, que ganhei na Feira do Livro de Havana. 

Aliás, ganhei quatro livros do escritor e vou ler todos eles e comentar aqui no blog, é o mínimo que posso fazer para compartilhar esses novos conhecimentos.

E como os temas e os gostos nos unificam - Cuba, Fidel, Frei Betto, Revolução Cubana, socialismo, leitura de livros, amig@s de esquerda etc - hoje mesmo ganhei um dos livros que mais quero ler de Frei Betto, em espanhol, Fidel e a religião - Conversas com Frei Betto (1985), da amiga e militante Miriam Shibata. Viajamos juntos para Cuba ano passado.

Aliás, falando do grande líder da Revolução Cubana, a biografia de Frei Betto que estou lendo é iniciada com um prólogo dele, Fidel Castro. Um texto pra lá de emocionante!

É isso! Mais uma postagem compartilhando com vocês as novas experiências vividas em Cuba, e convidando cada uma e cada um a conhecer a República Socialista de Cuba e o povo cubano.

William Mendes


Post Scriptum: o texto anterior dessa série sobre a minha 2ª viagem a Cuba pode ser lido aqui.


terça-feira, 5 de março de 2024

Cuba (II)




Refeição Cultural

Osasco, 5 de março de 2024. Terça-feira.


A viagem deste ano a Cuba teve como motivo principal a 32ª Feira Internacional do Livro de Havana, ocorrida entre os dias 15 e 25 de fevereiro, na Fortaleza San Carlos de la Cabaña e em outros pontos da cidade de Havana. Vejam a beleza da fortaleza em algumas fotos que fiz em 2023: aqui.

Fortaleza San Carlos de la Cabaña.

Fui a Havana através de um grupo de brasileiras e brasileiros organizado por Telma Araújo, uma militante do Movimento de Solidariedade a Cuba, e uma organizadora das brigadas brasileiras a Cuba com décadas de experiência. Durante oito dias ficamos no Hotel Copacabana em Havana e viajamos até a cidade de Trinidad, passando um dos dias na cidade de Cienfuegos.

Nosso grupo solidário a Cuba.

Nosso grupo organizado por Telma Araújo esteve em Cuba com o suporte de um pacote organizado pelo Icap - Instituto Cubano de Amistad con los Pueblos -, e a Amistur é a agência de viagem que nos auxilia durante a estadia no país. Cada um comprou suas passagens de ida e volta, e providenciou a documentação e o restante ficou por conta do pacote. Foi tudo excelente!

Sede do Icap em Havana.

Para vocês terem uma ideia do quanto é recomendável viajar a Cuba por uma alternativa como esta - pacotes organizados pelo Icap/Amistur - no valor que se paga (cerca de mil dólares) estão incluídas todas as refeições - café, almoço e janta -, hospedagens em hotéis, e também os traslados para todos os eventos e lugares, a busca e o retorno ao aeroporto. Neste pacote, tivemos crachás para entrada livre na Feira do livro e em todos os eventos ligados a ela.

Sede da Amistur em Havana.

Amistur - Misión: Captar y emitir hacia Cuba visitantes, grupos de turismo sociopolíticos y brigadas de solidariedad procedentes de todo el mundo, a través del Instituto Cubano de Amistad con los Pueblos, Asociaciones de Amistad y la red de turoperadores de la Agencia, para mostrar directamente la realidad cubana, brindándoles un servicio receptivo de excelencia y una asistencia personalizada, que garanticen su más alta satisfacción, con el máximo de eficiencia, alcanzando un crecimiento sostenido de la operación del destino Cuba.

Hotel Copacabana: área das piscinas.

Quero registrar a vocês que a experiência deste ano se soma à experiência do ano passado, e ambas foram muito satisfatórias e não tivemos nenhum contratempo durante as duas semanas em Cuba. Em 2023, o passeio foi bastante diferente. Ficamos em casas de famílias cubanas - nossa base para tudo foi a Casa de Isabel - e com as informações e suporte da professora Maria Leite, grande intelectual e estudiosa sobre a pedagogia e a história de Cuba.

Casa de Isabel, ao lado do Capitólio.

Ou seja, posso dar o testemunho a vocês, amigas e amigos do blog, que são várias as maneiras de realizar o sonho de conhecer Cuba e o povo cubano, um povo alegre, inteligente e criativo, que ousou enfrentar os imperialismos desde o período colonial e ainda hoje luta com dignidade e criatividade para solucionarem os problemas da Ilha, que sofre há mais de seis décadas um embargo econômico criminoso e assassino por parte dos Estados Unidos da América.

Com Isabel, Luis e Telma.

Após o período do pacote do Icap/Amistur com todas as facilidades para passarmos 8 dias em Cuba com foco na 32ª Feira Internacional do Livro de Havana, fiquei mais alguns dias na Casa de Isabel, onde sempre os brasileiros e brasileiras são acolhidos com carinho e têm à disposição o apoio logístico de Isabel e Luis para fazer passeios e viagens por toda a Ilha.

Palestra de Maria Leite sobre
o livro Cuba Insurgente.

O pacote que fizemos era até o dia 22 de fevereiro e como a Feira do Livro iria até o dia 25, pude aproveitar até o último dia as atrações diversas que faziam parte do evento cultural. Foi assim que pude ver apresentações musicais em teatros ao longo do período em Havana.

Frei Betto e Ailton Krenak.

Nas próximas postagens, vou contando um pouco a vocês as experiências extraordinárias de estar ao lado e acompanhar eventos com intelectuais brasileiras e brasileiros como Conceição Evaristo, Frei Betto, Ailton Krenak, Emicida e a professora Maria Leite, cujo livro Cuba Insurgente: identidade e educação (2023) foi um dos materiais que mais me ensinaram sobre Cuba até o momento.

Conceição Evaristo e Emicida.

Abraços e não percam tempo, se desejam conhecer Cuba, organizem suas viagens para lá. As experiências que trazemos de lá são diferentes das que estamos acostumados ao visitar outros países capitalistas como o nosso.

William Mendes


Post Scriptum: o primeiro texto desta nova série sobre Cuba pode ser lido aqui.