quarta-feira, 24 de abril de 2024

Leitura: A Faca da Catacumba - Arnaldo Onça



Refeição Cultural

Osasco, 24 de abril de 2024. Quarta-feira.


"Na segunda-feira, dia 12 de novembro do mesmo ano, sempre com a faca presa à cintura, novamente o 14 Bis levantou voo, desta vez 220 metros, a alturas que variaram de dois a três metros..." (p. 221)


A leitura é uma necessidade para mim, é uma ação consciente e voluntária essencial. Inclusive desenvolvi hipóteses preocupantes sobre a perda da capacidade de leitura de nossa espécie por causa dos meios atuais de comunicação. Temos que ler e escrever para preservar nosso cérebro e nossa invenção recente: o signo linguístico e a escrita (alguns milhares de anos).

Neste ano em curso, não tenho conseguido ler como gostaria. Nem escrever como seria necessário. Vários fatores estão dificultando meu cotidiano como leitor e escritor.

Como disse na postagem anterior (ver aqui), meu ato de leitura é acompanhado de algum registro textual para que possa refletir sobre o conteúdo do que li, ou para compartilhar com as leitoras e leitores do blog algumas ideias e ou sensações obtidas com a leitura feita.

Refletindo sobre as leituras em andamento ou terminadas recentemente, notei a dificuldade de fazer um registro das impressões que tive do ato de leitura. Foi assim até agora com os livros que terminei de Paulo Freire, Frei Betto, e diversos livros em andamento.

Uma categoria de livros que gosto de incluir em minhas leituras anuais é a categoria de livros produzidos por colegas de comunidades às quais me incluo como, por exemplo, a categoria bancária, conhecidos dos cursos acadêmicos que fiz e demais grupos de afinidades.

O livro do colega aposentado do Banco do Brasil, Arnaldo Onça, é um livro de ficção e entretenimento que comecei a ler numa viagem de alguns dias para descansar com a esposa e que só retomei e finalizei agora, um tempinho depois. Sempre li assim, dezenas de livros.

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A FACA DA CATACUMBA

A ideia da história é bem interessante. O autor nos leva a viajar pelo mundo no tempo e no espaço através de um artefato que percorre civilizações - a Faca da Catacumba - e envolve figuras da história ou desconhecidas, reais ou ficcionais, ao longo de dois milênios.

Uma coisa que sempre respeitei desde quando comecei a ler na adolescência romances e obras literárias, sejam os livros com vínculos históricos ou ficcionais, é o trabalho que autores e autoras têm para tecer um texto do início ao fim. Dá muito trabalho fazer um livro!

Outra coisa que sempre me atraiu na leitura de livros, mesmo quando era muito novo e mal tinha tempo de ler alguma coisa, além do tempo para trabalhar e cumprir as horas de estudos formais, era a possibilidade de viajar através da leitura, de vivenciar outras percepções possíveis da realidade, para além daquela na qual eu vivia ao abrir os olhos e ter que fazer o que as veredas da vida me levaram a fazer.

A ficção de Arnaldo Onça cumpre esse papel de fazer os leitores viajarem para épocas diversas, culturas variadas de regiões distantes do nosso mundo mundo vasto mundo. Ao longo do livro vamos à Roma antiga, à China, às Américas e por aí afora.

De repente, até nosso Santos Dumont estava lá envolvido com a Faca da Catacumba... muito interessante! 

Adorei a emocionante história do jovem e promissor jogador de futebol Niquim!

Em ficção tudo é possível, essa é uma das maravilhas da literatura. Estabelecido o acordo entre autor e leitores, definidas as regras da leitura, verossimilhança traçada, é só iniciar a viagem literária e curtir a história ou a estória ou as imaginações permitidas aos autores para preencher as lacunas das histórias.

Enfim, finalizada a viagem literária iniciada numa viagem real minha de um tempinho atrás.

Leitura leve e divertida. Imagino o trabalhão que deu fazer as pesquisas para alinhavar os diversos caminhos percorridos pela Faca ao longo dos séculos.

Parabéns ao nosso colega do BB, que além de escritor é participante assíduo e de forma voluntária em diversas associações e entidades associativas que cumprem a função de trazer cultura, informação e lazer à nossa comunidade do Banco do Brasil.

William Mendes


sábado, 20 de abril de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 20 de abril de 2024. Sábado.


O MUNDO TÁ FODA!

Ao acordar, passei a primeira hora deitado, lendo um pouco de notícias. Fiquei pensando nos acontecimentos de meu cotidiano recente, e naturalmente pensei sobre a política e sobre o nosso país. Mesmo fora do movimento sindical, sou um ser político, não estou alheio aos acontecimentos.

As perspectivas do amanhã, no meu caso particular e no caso de nosso país, são complexas. Digo "complexas" para não dizer que são "ruins". Os otimistas diriam que são "desafiadoras". As maneiras como se dizem as coisas têm objetivos e efeitos específicos nas técnicas de comunicação. No fundo, no fundo, tá foda!

Meus conhecimentos adquiridos durante a jornada da existência me impõem atitudes e comportamentos que não podem ser deixados de lado simplesmente por um desejo imediato de ligar o botão do foda-se. Conheço muita coisa da vida política. Só deixarei de ver o mundo como vejo com uma eventual doença degenerativa do cérebro ou com minha morte.

Enquanto pensava nas coisas recentes, ainda deitado, pensei que tem tanta coisa rolando no meu mundinho e no mundão lá fora, que quase tive vontade de listar coisinhas e coisonas para visualizar melhor as coisas e organizar as ideias.

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LEITURAS

Neste ano, não estou conseguindo escrever sobre minhas leituras. Ruim isso! Quando escrevo aqui no blog sobre um livro ou algo que li, organizo as reflexões advindas com a leitura e acabo memorizando melhor o que a leitura me trouxe de ideias novas. Postando o texto, atinjo meu desejo de compartilhar de forma gratuita cultura e conhecimento humano.

Minha atenção está ruim do ponto de vista dos estudos. Tem muitos fatores externos e psicológicos que estão me impedindo de concentrar-me nos momentos de leitura e estudos. E quando leio, não finalizo o processo de aprendizagem fazendo o texto de comentário e fixação de informações.

Quero terminar algumas leituras iniciadas e escrever algo sobre elas. Li recentemente a tragédia "Ricardo III" de Shakespeare e assim como as duas comédias do autor que li faz poucos meses, acho que a leitura foi sofrível, não li como gostaria. O ideal é sentar-me e ler as três obras de novo. De forma rápida.

As leituras dos livros de Paulo Freire foram melhores, mas não consegui terminar meu texto sobre "Pedagogia da Autonomia". Faltou foco.

Quero terminar o livro do colega aposentado do BB, Onça. Li uma parte dele quando viajei uns dias com a esposa, mas não consegui retomá-lo e finalizar a leitura. É um livro de entretenimento, leve.

Estou lendo uns livros mais complexos e não consegui dar sequência. Um sobre a China, um sobre Marx e um sobre saúde suplementar. As leituras são muito interessantes, não tive dificuldades. É que a cabeça tá com a atenção dividida mesmo.

Após a segunda viagem a Cuba, com a feira do livro de Havana como motivo principal dessa experiência no país socialista, me encantei com Frei Betto, e dos contatos com autores brasileiros que lá estiveram, estou lendo o novo livro da querida Conceição Evaristo e preciso terminar o livrão sobre a biografia do dominicano. Li um livro dele sobre o marxismo e não escrevi a respeito da leitura.

E, lógico, após essas atividades culturais inacabadas, preciso pegar com vigor a leitura de "Os miseráveis", que peguei para ler no semestre passado e parei de novo. Não posso fazer isso. Tenho que ir até o fim do clássico.

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ENVELHECIMENTO DA GENTE

Essa temática é pessoal e coletiva. É a natureza em plena ação. Tudo muda o tempo todo. 

Na família serão tempos de lidar com as mortes das pessoas queridas. Isso acontece de forma mais frequente à medida que vamos envelhecendo e durando mais tempo na Terra.

Como sou uma pessoa de sorte, tive a felicidade de ter meus pais e familiares nucleares presentes até hoje. A boa sorte de tê-los por mais tempo me faz saber que ainda vou ter que lidar com as perdas de pessoas queridas, ou elas terão que lidar com a minha desaparição, ninguém sabe o amanhã. A morte é a certeza que o animal humano já sabe e que os outros animais não, podem até pressentir na hora, mas por instinto. Por isso inventamos a ideia de viver depois de morrer...

O mundo humano que coisificou as pessoas como meras mercadorias e transformou as relações humanas em relações utilitárias, relações que só duram enquanto são úteis de alguma forma para as pessoas (físicas e jurídicas) fez com que a maioria das relações seja de pouca duração e de fácil rompimento. Uma divergência casual de opinião pode encerrar uma relação de toda uma vida. E com isso vamos nos tornando seres solitários, sozinhos mesmo quando acompanhados.

Quando penso em envelhecimento, adoecimento em suas diversas formas, quando penso em necessidade de acolhimento que as pessoas sentirão cada dia mais, e provavelmente estarão por sua conta e risco, penso no conhecimento que adquiri ao ser gestor de uma autogestão em saúde diferente da lógica do mercado da doença (indústria da "saúde"). 

Fico pensando se deveria esquecer o que sei sobre a Cassi ou se deveria escrever com frequência e regularidade tudo que conheci dessa Caixa de Assistência. À época, criei um público leitor que se interessou pelo que escrevia. De certa forma, fiz um papel importante ao dizer aos participantes da Cassi o que o próprio site da autogestão nunca dizia.

Ao refletir sobre a conversa com o médico que atendeu meu pai nesses dias, sobre possíveis doenças que ele tenha, fiquei pensando sobre a questão da sarcopenia que ele vem enfrentando recentemente. Eu conheço sobre o tema desde que estudei Educação Física e sei que também já iniciei meu processo natural de perda de massa e tônus muscular. Sendo consciente sobre o tema, deveria estar mais dedicado a frear seus efeitos e a gente acaba sendo relapso com a própria saúde. Somos animais racionais contraditórios...

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QUEM DEFINE A ARMA DE UM COMBATE É O INIMIGO

Por fim, fecho essas reflexões pensando num acontecimento que me angustia: a ascensão do fascismo e da extrema-direita sem uma capacidade de reação à altura do campo democrático e da esquerda.

De meu mundinho atual, de alguém que já fez parte do mundão da política, sinto uma certa angústia ao ver o nosso lado da classe tão perdido em relação aos objetivos, estratégias e táticas para disputar a hegemonia de nossas ideias na sociedade humana.

Francamente, o mundo e o ser humano mudaram ou foram mudados drasticamente nas duas últimas décadas. Percebem a rapidez da coisa? Duas décadas. Período do boom das tecnologias da informação, internet e redes sociais. Na sociedade humana deste momento histórico, não há mais espaço para conciliar e frear processos com diálogo. Não há diálogo com nazifascistas, trumpistas e bolsonaristas fanáticos. Não há diálogo com armas despejando morte sob nossos corpos.

Esse conceito do subtítulo, sobre quem define a arma do combate ser o inimigo, tirei do ensinamento do grande líder sul-africano Nelson Mandela. Numa derrota fragorosa de seu povo, ele entendeu que não adiantava usar as tradicionais armas pacifistas de combate ao regime do apartheid porque o inimigo estava matando seu povo e não se sensibilizava com nada pacífico.

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É O OPRESSOR QUE DEFINE A NATUREZA DA LUTA

"A lição que aprendi com a campanha (contra a remoção do povo negro de Sophiatown em 1955) foi que no final nós não tínhamos alternativa alguma senão resistência armada e violenta. Repetidamente, havíamos utilizado todas as armas de não violência em nosso arsenal - discursos, delegações, ameaças, marchas, greves, ficar em casa, prisões voluntárias - tudo em vão, pois tudo o que fazíamos era respondido com mão de ferro. Um guerreiro pela liberdade aprende da maneira mais difícil que é o opressor quem define a natureza da luta, e ao oprimido frequentemente não se deixa recurso algum senão utilizar métodos que espelham aqueles do opressor. Em certo momento, só é possível lutar contra o fogo usando fogo" (pág. 206. Longa Caminhada até a Liberdade, Nelson Mandela)

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Vejam o momento atual na Palestina! Observem o que os sionistas decidiram fazer para desocupar as terras da Faixa de Gaza. Metem bombas, eliminam população civil - mulheres, crianças, idosos -, quem está lá, e dane-se o que o mundo pensa.

Adiantaria ao povo árabe-palestino fazer greves, manifestações pacíficas etc etc? Óbvio que não!

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QUEM DEFINE A PAUTA DEFINE A AGENDA... E OS TEMPOS SÃO DE AUTORITARISMO E VIOLÊNCIA DA EXTREMA-DIREITA, FINANCIADA PELO CAPITAL

O 1% dos homens poderosos do mundo decidiu eliminar quem se oponha ao seu poder. Danem-se países, comunidades, biomas, o planeta Terra. Os tempos são de merda! Tempos de violência! 

Os caras não ligam mais para nós, o povo. Nem para sermos explorados como mão de obra barata. Nunca ligaram, mas antes havia certo pudor, certo disfarce do pessoal que comia com talheres de prata... os tempos são outros.

Alguns pensadores já falam que o 1% quer eliminar mais da metade dos humanos, pois estaríamos incomodando e já não precisam mais de nossa mão de obra fabril. As máquinas dão conta da produção.

Aí eu pergunto: vamos dialogar com os fascistas? Vamos conciliar com os extremistas de direita que têm carta branca e financiamento do 1% para barbarizar conosco? 

Os tempos são outros. Nossos corpinhos humanos serão triturados pelas máquinas de extermínio dos donos do poder. 

Se a esquerda ou o segmento que um dia se disse de esquerda não acordar e mudar a postura e mudar as estratégias para enfrentar esses bárbaros fascistas com as mesmas armas que eles nos humilham, nos machucam e nos eliminam não sobraremos nem para contar a história dos povos derrotados. Até porque hoje tudo é "nuvem", nem manuscrito antigo com nossa versão vai sobrar para contar que um dia nós da esquerda existimos... Nossas memórias em "nuvens" serão desfeitas com uma brisa!

Encerro por hoje. Minha solidariedade ao deputado Glauber Braga (Psol-RJ), que reagiu de forma leve à violência do fascista do MBL que o ameaça faz tempo. Na minha opinião, não dá para contemporizar com a violência dos fascistas. Não se dá flores a quem quer nos eliminar.

William Mendes


Post Scriptum: soube do falecimento precoce de um querido militante do Banco do Brasil, o companheiro Sérgio Villaça. Meus sentimentos à família, aos amig@s e à companheira Tina Villaça.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Cuba (V)



Refeição Cultural

Osasco, 18 de abril de 2024. Quinta-feira.


CUBA: PAÍS E POVO INESQUECÍVEIS

Mesmo sem ter feito um planejamento específico para visitar Cuba, acabei tendo o privilégio de conhecer a República Socialista, indo ao país caribenho em 2023 e 2024. Foram experiências marcantes em minha vida. O fato de não ter ido só, ter ido em grupo, ampliou em muito as minhas possibilidades de contatos com a história e a cultura do povo cubano.

A primeira oportunidade apareceu ao ver em uma rede social uma companheira aposentada do Banco do Brasil - Miriam Goes Shibata -, militante antiga das causas populares, organizando um grupo para ir a Cuba para o 1º de maio de 2023. Me interessei, entrei em contato com ela, e realizei o sonho de conhecer uma das mais longevas experiências de sociedade organizada fora da lógica capitalista de exploração dos homens e mulheres por poucos homens (a regra capitalista). Imaginem a felicidade de ter levado meu filho comigo nessa experiência!

A segunda experiência não foi muito diferente da primeira em relação à casualidade ao ver a oportunidade de retornar ao país: anúncio em rede social. 

Novamente, vi um anúncio de uma militante das causas populares e coordenadora de brigadas internacionais montando um grupo de pessoas para ir a Cuba - Telma Araújo -, viagem que teria toda a estrutura de apoio do Icap, a partir da Amistur, por ocasião da realização da 32ª Feira Internacional do Livro de Havana. Consegui me organizar para retornar à Ilha e aprender um pouco mais sobre a história de um povo que luta por liberdade, soberania e dignidade há séculos.

Nesta postagem, faço uma retrospectiva breve dessas duas viagens que acrescentaram muitas informações às reflexões e estudos que venho desenvolvendo nos últimos anos sobre a sociedade humana. A retrospectiva foi feita a partir da leitura de meus próprios textos no blog.

 

Como iria participar do programa "Cubanias", de Lina Noronha (que ocorreu na segunda, 15/4, às 10h), achei interessante rever no dia anterior minhas impressões sobre as duas viagens. Agradeço muito o convite feito por Lina e espero ter contribuído de alguma forma para as causas da classe trabalhadora em geral e do povo cubano em particular. Para ver o programa é só acessar o link aqui.

As minhas impressões e reflexões, desenvolvidas a partir das viagens a Cuba e de estudos que venho realizando, estão em uma série de postagens que fiz aqui no blog desde o início do ano de 2023, quando comecei a ler mídias a respeito da história de Cuba e do povo cubano. No blog foram dez textos sobre a primeira viagem e mais quatro textos referentes à viagem mais recente. 

Fiz também muitos textos sobre tudo que lia e estudava relativo ao tema. Devo ter no blog dezenas de artigos relacionados com a temática cubana: livros lidos, personagens estudados, histórias sobre a revolução etc.

Caso alguma leitora ou leitor queira ler mais postagens sobre o tema é só clicar em qualquer um dos textos com a categorização "Cuba" (tag) que acaba indo para outros textos, que são todos independentes, são completos no tema tratado. 

(Atenção: em celular, os leitores devem descer a tela até o final da última matéria e clicar "ver versão para a web", para poder acessar o formato do blog para computadores, notebooks e tablets, com as colunas laterais onde estão as categorizações em ordem alfabéticas)

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José Martí e Museu da Revolução.

CUBA, UM PAÍS QUE PRESERVA E VALORIZA SUA HISTÓRIA

As primeiras postagens feitas após retornar da viagem feita em 2023 já demonstram a boa impressão que tive sobre o esforço do governo e da população em preservar a extraordinária história de lutas pela libertação da Ilha do jugo imperialista, tanto o espanhol (até s. XIX) quanto o estadunidense (no s. XX).

O foco na educação em todos os níveis é prioridade do governo cubano, comento isso na primeira postagem (aqui). Na segunda, comento um pouco sobre a preservação arquitetônica em Havana Velha e observo a diferença entre a Cuba que se preocupa com seu povo e a cidade de São Paulo das dezenas de milhares de pessoas morando nas ruas (aqui). Na terceira, anoto minha admiração pela preservação do patrimônio material e imaterial em Cuba (aqui).

Nas postagens seguintes, comento a visita ao Centro Fidel Castro Ruz e uma caminhada pelo Malecón (aqui), e nossa ida à Plaza de la Revolución, lugar com uma significação imensa (aqui). Nessa mesma postagem, dou minha opinião sobre a questão da "liberdade de imprensa", normalmente confundida com liberdade de expressão das pessoas físicas. A "imprensa" monopolista capitalista ilude as pessoas sobre conceitos básicos de expressão e comunicação.

Na sexta postagem (aqui), comento sobre as andanças que meu filho e eu fizemos no feriado de 1º de maio e depois opino um pouco sobre as narrativas impostas goela abaixo pela grande imprensa capitalista em haver democracia no Brasil e Estados Unidos e não haver democracia em Cuba, que tem um sistema de representação popular bem interessante, com eleições constantes e representatividade muito mais real que a nossa ou que a dos norte-americanos.

Che com a criança nos braços,
em frente ao Comitê do Partido
Comunista de Cuba, em Santa Clara.

Na sétima postagem (aqui), falo da emocionante visita à Santa Clara, local histórico onde se desenvolveu a batalha de tomada do trem blindado e a vitória final da Revolução Cubana, e onde se encontra o Memorial, Museu e Mausoléu de Che Guevara. Foi uma emoção inesquecível!

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"A visita a Santa Clara foi, para mim, um dos momentos mais emocionantes da viagem a Cuba. Parti da cidade com um sentimento de gratidão imensa àqueles homens e mulheres revolucionários que libertaram a Ilha do imperialismo como sonharam e lutaram por isso gerações de cubanos como José Martí e iniciaram a partir de 1959 uma sociedade em outras bases e princípios, antagônicos ao capitalismo."

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Na oitava postagem (aqui), descrevo nosso 6º dia em Havana. A visita ao anexo do Museu da Revolução (que está em reforma), onde estão equipamentos de guerra e o Iate Granma, fez parte das andanças por Havana Velha naquele dia, sob o comando do senhor Luis Caballero, que nos contou muita história e conquistas do povo cubano. Na manhã seguinte, iríamos para Trinidad.

As postagens finais relativas à primeira viagem a Cuba (2023), acabei fazendo na véspera de embarcar para a segunda experiência neste ano de 2024. Na 9ª (aqui), relato a nossa estadia em Trinidad e a emoção inesquecível das celebrações do 1º de Maio em Cuba. 

Na 10ª postagem, na qual finalizo os relatos sobre a viagem do ano passado, conto sobre nossa estadia em Varadero, cidade turística com praias incríveis. Comento também os últimos passeios em Havana, fomos à Finca de Hemingway, à Fusterlândia e ao Memorial da Denúncia (aqui).

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Plaza de la Revolución... emoção!

VIAGEM A CUBA PARA PARTICIPAR DA 32ª FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO DE HAVANA

Em relação à segunda visita à Cuba (2024), estou escrevendo minhas impressões e experiências ainda. Até o momento, já fiz quatro postagens.

Diferente da primeira viagem, nesta foram oito dias incluídos em um pacote com tudo pago, facilitando enormemente as coisas para o turista. Só precisei comprar as passagens de ida e volta. A primeira postagem pode ser lida aqui.

No pacote estavam incluídas todas as refeições, transporte para todos os lugares programados, a hospedagem em hotel, uma credencial para frequentar a feira do livro e os eventos relativos a ela nos dez dias, e ainda o transporte e estadia para as viagens que fizemos até Trinidad e Cienfuegos. Achei excelentes essas facilidades. Mais detalhes podem ser lidos aqui.

Nos outros dias que fiquei em Havana, é claro que estive hospedado na Casa de Isabel, onde pude rever os amigos cubanos e aproveitei para andar pela cidade nos dias finais da viagem.

A terceira postagem desta viagem (aqui), acabei falando sobre minha experiência de estar próximo ao grande brasileiro Frei Betto por alguns dias. Tive a oportunidade de ouvir palestras dele e voltei com alguns livros do dominicano para ler. 

Na quarta matéria da série sobre a viagem a Cuba neste ano abordei a questão da importância da história para o povo cubano e acabei fazendo um breve retrospecto da história recente do golpe de 2016 no Brasil. 

Estávamos no mês de março à época da postagem e uma das polêmicas que vivíamos no período no Brasil era a questão dos 60 anos do 31 de março, data do golpe de 1964. Ler postagem aqui.

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¡HASTA LA VICTORIA, SIEMPRE!

Ufa! Como deu trabalho fazer essa síntese, amigas e amigos leitores! Tive que reler as quatorze postagens que fiz.

É isso!

Viva o povo cubano! Pelo fim do embargo criminoso dos EUA contra Cuba!

William


domingo, 14 de abril de 2024

Natais - 1973



Refeição Cultural

Estamos no mês de abril de 2024. Sábado de noite para domingo. Estou em Uberlândia. 

Um silêncio entristecedor predomina na casa de meus pais. Digo isso sendo uma pessoa que gosta de silêncio. São os sinais que entristecem a gente. Os acontecimentos apontam para onde as coisas caminham.

Como imaginei no último Natal, as relações entre as pessoas estão cindidas, esgarçadas, estão se diluindo. Os laços que ligaram grupos de humanos por milênios, que criaram aquilo que Benedict Arderson chama de "Comunidades Imaginadas", estão se desfazendo. As relações humanas estão cada dia mais utilitárias, só permanecem enquanto há alguma utilidade naquilo.

Tenho avaliado o comportamento humano nos últimos anos. Entendo que os seres humanos estão inseridos numa espécie de experiência a partir das big techs e suas técnicas de manipulação de massas (corporações globais que dominam os meios de comunicação), manipulação que já era tentada pelos grandes veículos de informação, mas que ganhou uma dimensão extraordinária com os algoritmos das redes sociais.

Estamos nos tornando seres antissociais, impacientes e sem vontade de lidar com qualquer pessoa que pense diferente ou emita uma palavra que a outra pessoa não goste. Relações familiares, de amor, amizade, se desfazem como se desfazem as relações virtuais, com um clique/cancelamento.

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E as guerras? Quem vai pará-las? 

Os contextos são diferentes dos contextos anteriores nos quais a espécie humana conseguiu evitar o lançamento de diversas bombas atômicas ao mesmo tempo, convencendo lideranças de grandes comunidades humanas que aquelas ações exterminariam a própria espécie. Estou falando de poucas décadas atrás. Anos de Guerra Fria.

Neste momento, com esses humanos ao nosso redor, com essas redes sociais que manipulam dezenas e centenas de milhões de humanos, com esses sociopatas por trás de corporações globais que cagam para os países e as pessoas, nós não temos perspectivas muito boas para evitar que as guerras que estão pipocando por aí avancem até o "The End", guerras em geral provocadas diretamente ou por procuração pela potência nuclear e império decadente Estados Unidos, que deixa claro que vai cair atirando contra as novas potências que estão surgindo, como a China, por exemplo.

Olhando desde abril lá para dezembro de 2024, é bem difícil saber se só a minha família terá dificuldades para se reunir no Natal ou milhões e milhões de famílias terão dificuldades diversas de reunião para confraternização...

Tempos sombrios, tempos desafiadores. 

(e pensar que a educação poderia mudar tudo isso, seria só educar as pessoas para um outro mundo possível. No entanto, sob o capitalismo e sob a governança de sociopatas, a salvação do mundo e da humanidade está cada dia mais distante)

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NATAL DE 1973 

Naquele ano, vivi com a família o meu quinto Natal. 

Nasci no Brasil, um dos países mais católicos do mundo à época. Fui batizado e recebi as bençãos divinas. 

Não me lembro das comemorações da data natalina, mas sei que com uns quatro anos de idade, eu já estava sendo aculturado como uma pessoa que vivia no ambiente das crenças religiosas do país, um misticismo resultante de todo o sincretismo religioso originário da mistura do catolicismo dos invasores europeus, com as visões de mundo dos povos indígenas e as religiões de matriz africana, vindas com os povos sequestrados e escravizados nesta terra, colônia de exploração. 

Ainda recebemos no último século e meio, povos vindos da Ásia e Oriente e suas crenças se somaram às que já existiam aqui. 

CONTEXTO NO MUNDO

Naquele ano, o World Trade Center foi inaugurado na cidade de Nova York, em 4 de abril. As torres gêmeas viraram o símbolo do poderio capitalista dos EUA. 

Dois 11/9 a registrar: 

11/9/73: no Chile, um golpe de Estado depõe Salvador Allende, que morre no Palácio La Moneda. Pinochet começa a ditadura sanguinária. 

11/9/01: muitos anos depois, a data é marcada no mundo pela queda das torres gêmeas inauguradas em 1973. Aviões se chocam contra elas, em Nova York, e o mundo seria diferente depois disso. 

EM NOME DE DEUS

Tudo que aconteceu foi em nome de Deus: nosso Natal, a invasão do Brasil no passado e a ditadura daquele momento, a vinda dos escravizados africanos, o capitalismo americano e a ditadura de Pinochet. 

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Na foto da postagem, sou o único menino entre as meninas. A foto foi tirada no casamento de meus tios em São Paulo, em maio de 1973. As duas meninas do meu lado direito são minha irmã e minha companheira.

William


Post Scriptum: a postagem anterior desta série pode ser lida aqui.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 11 de abril de 2024. Quinta-feira.


REFEIÇÕES CULTURAIS AMARGAS

Dias cansativos os últimos de meu cotidiano. E quando penso em me lamentar por qualquer coisa, evito, me lembrando no instante seguinte a uma eventual reclamação a outras pessoas, aos deuses e aos acasos, por ter a clareza de que sou uma pessoa de sorte.

E, consciente disso, tento calar minhas lamúrias. A amplíssima maioria das pessoas do mundo estão passando por dificuldades impeditivas de seguir vivendo e, sabedor de uma parte dos motivos desse "estado de mal-estar social", como disse o professor Belluzzo, devo moldar minhas atitudes para não piorar as coisas no mundo.

Claro, não devemos confundir reclamações sobre coisas nas quais estamos em condições melhores do que a maioria com críticas às coisas que tenhamos algum conhecimento de que poderiam estar de outro jeito por saber que elas estão de certa forma corrompidas pela prática dos humanos. Um intelectual não pode deixar de se posicionar sobre o que sabe, como nos ensina Edward Said, em Representações do intelectual (comentário aqui).

Por exemplo, desde que o Brasil foi governado pelos dois golpistas após 2016, Temer e Bolsonaro e seu grupo de homens brancos machos da casa-grande brasileira, as instituições do Estado nacional, as burocracias que regulam a vida em sociedade, tudo deixou de funcionar minimamente, como funcionavam antes do golpe. Isso desorganizou a vida em sociedade.

As pessoas estão por sua conta e risco nas coisas do cotidiano, como se em uma selva estivéssemos, como os demais bichos da fauna, e não como animais humanos que constituíram regras de sociabilidade - direitos e deveres - nos últimos milhares de anos. Impera a cultura do mais forte, mais poderoso, mais egoísta e canalha, mais privilegiado socialmente, e que se dane o restante, no caso brasileiro, a maioria do povo oriundo de uma ex-colônia escravagista violenta e terra de exploração de alguns de fora em prejuízo dos milhões de dentro.

A grande imprensa, a imprensa da casa-grande, os meios de comunicação todos concentrados em poucos coronéis, desde sempre, desde a Primeira República, instituída pelo primeiro golpe de Estado em 1889, essa imprensa na qual o saudoso Paulo Henrique Amorim chamava de PIG - Partido da Imprensa Golpista - é a mãe das mentiras (fake news), mãe da divulgação de ódio e medo que acanalhou parte do povo brasileiro. A imprensa comercial do país envenenou a linguagem e o comportamento do povo brasileiro, destruindo a política - a solução pacífica da controvérsia -, e depois de toda merda que fizeram tivemos os dois desgraçados Temer e Bolsonaro que destruíram as instituições da vida cotidiana do Brasil.

Nada funciona para os cidadãos comuns, as instituições públicas e privadas que deveriam resolver as questões de saúde, educação, segurança, transporte, moradia, cultura, serviços básicos de telefonia, água e esgoto, luz, todas as instituições funcionam à base da cultura do "foda-se o usuário" e as pessoas não têm a quem recorrer, porque o lugar de recorrência também funciona na mesma lógica do "foda-se o usuário". 

E o novo governo, que gosta de cuidar de gente, não consegue fazer o que gostaria porque as estruturas estão amarradas para exercerem a má burocracia - a de não deixar mudar nada - e assim, os caras que perderam no voto em 2022 vão aos poucos minando o governo de frente ampla por terem mais capacidade operativa de pós-verdade. E ainda temos um parlamento quase todo da casa-grande. Um governo democrático-popular sitiado por um Congresso corrupto, de extrema-direita, que mudou as regras do orçamento público e atua para retornar ao caos que dá lucro para meia dúzia de fdp da casa-grande. Difícil!

Como disse em outro texto, me parece que mesmo que Lula entregasse uma Suécia ao povo, as fontes de mídia somadas (PIG e big techs) farão as pessoas acharem que estão no Haiti. O mundo humano funciona hoje a partir das redes de informação e desinformação. 

DOMINA O MUNDO QUEM DEFINE A PAUTA E A AGENDA

Eu falo o que aprendi desde que fui secretário de imprensa dos bancários entre 2006-2009: o cotidiano é dominado por quem define a pauta e a agenda do que as pessoas vão falar, ouvir, ler, comentar. Se já era assim com o PIG, ficou pior com as big techs. Um bosta de um Elon Musk, um bosta, tira de pauta as apurações do crime contra a vereadora Marielle Franco e tira o foco sobre os golpistas do "8 de janeiro" e faz duzentos milhões de pessoas ficarem na pauta que ele definiu contra um juiz do STF e o governo Lula. Entendem o que estou dizendo?

Enfim, finalizo essas reflexões, refeições culturais amargas. Pelas minhas dificuldades recentes de cotidiano, não consegui sequer postar impressões sobre quatro livros lidos recentemente...

Meus dias estão meio foda.

Seguimos tentando melhorar como pessoa e não piorar o mundo.

William


quarta-feira, 3 de abril de 2024

Acaso 55



Refeição Cultural

Osasco, 3 de abril de 2024. Quarta-feira.


Acaso 55

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência.

Foi por acaso que antes dos cinquenta eu passei a controlar a pressão arterial antes de infartar ou ter um acidente vascular cerebral. Poderia já ter morrido antes não fosse isso. Na época das bebedeiras era tão ignorante que comia sal na mão com cerveja.

Foi um acaso eu ter virado gestor de saúde e, como pessoa da área, fazer os acompanhamentos primários e descobrir que era hipertenso e passar a controlar a pressão, uma das doenças crônicas que agravam e matam boa parte da população mundial.

Foi por acaso que ao ser convidado para disponibilizar meu nome para compor uma chapa nas eleições de uma autogestão em saúde, como candidato a diretor e encabeçar a chapa por entenderem que meu nome agregava, eu tinha um diploma de graduação em Ciências Contábeis, exigência protocolar para a inscrição da chapa.

Foi por acaso que eu me formei em Ciências Contábeis. Quando terminei o segundo grau não estava pensando em fazer faculdade naquele momento da vida. Um vizinho conhecido, um certo dia, me chamou para fazer um vestibular na região, Osasco, e acabei escolhendo um dos três cursos disponíveis e fiz a prova e entrei e me formei. Isso depois de organizar greve estudantil. Que orgulho tenho ao lembrar que uma turma de cem alunos me escolheu para ser o orador.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência.

Foi por acaso que fui parar em São Paulo antes dos dezoito anos. Me lembro que discuti em casa e acabei indo embora. Mas tinha outros motivos, penso eu. Não se conseguia trabalho em Uberlândia nos anos oitenta e eu estava cansado de trabalhos braçais e humilhantes, eu estava a fim de uma garota em São Paulo, apesar de saber que seria difícil conquistá-la. Soube que teria um lugar pra ficar no início se fosse pra SP.

Foi por acaso que ao visitar familiares em São Paulo, fiquei sabendo que haveria uma vaga na casa de minha avó após o casamento de um dos primos que moravam com ela, em uma das casas de meu tio. Era uma espécie de república, os primos dividiam as despesas da casa. Sairia um, entraria outro, eu.

Foi por acaso virar bancário depois de uns serviços gerais em Sampa. No começo, o trampo foi pesado, descarregar caixas de palmito de caminhões com umas vinte toneladas e entregar por toda a grande São Paulo. Depois, fui caixa de lanchonete no Itaim Bibi, a noite toda vendo a playboyzada na farra. Não me lembro como, mas virei bancário do Unibanco.

Foi por acaso que dei atenção ao pessoal do sindicato e passei a ajudar na organização de uma greve. E me sindicalizei e passei a sindicalizar todo mundo. Por acaso mesmo, porque quase todo mundo trabalhava em banco, como meus primos e primas e amigos, e nem por isso o pessoal dava bola para o sindicato. Poderia ser um bosta bolsonarista décadas depois se não tivesse me politizado com o sindicato.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência.

Foi por acaso que não morri algumas vezes por aí, alimentando estatísticas das mortes de homens jovens. Já dirigi um carro em estrada por dezenas de quilômetros com curto na parte elétrica, sem luz nenhuma, farol, lanterna, uma loucura irresponsável. E com muito sono. Por muito tempo dirigi minhas motos alcoolizado entre os dezoito e os trinta anos. Coloquei minha vida em risco inúmeras vezes. E por acaso fui vivendo.

Foi por acaso, imagino, as vezes em que quase morri mesmo sem ter culpa ou fazer alguma loucura. A vida tem um quê de acaso. Ir e voltar de moto para Mogi das Cruzes por meses, de moto, com chuva, de noite, naquelas curvas da estrada, cento e cinquenta quilômetros por dia, foi uma sorte da porra sair ileso disso. Foram tantas finas e tantos sustos. Puta merda!

Foi por acaso, talvez, me levarem para o hospital quando morava sozinho e estava me desmanchando em vômito e diarreia após uma intoxicação alimentar, salmonela se não me engano, e quando acordei de madrugada no hospital me disseram que foram horas no soro para recuperar minha pressão que chegou a 8x3 ou coisa do tipo.

Não sei se foi por acaso, mas tem o acaso nisso, ter passado tantos anos de minha vida querendo morrer e não ter morrido. Cheguei a pensar em interromper a vida e cheguei a falar essa merda para a minha mãe. Anos depois, fui entender que provavelmente passei a adolescência e uma fase de adulto com uma forte depressão sem nunca ter tratado isso um dia sequer. Sobrevivi.

Aí já é uma viagem dessas quase místicas, ou do acaso bem acaso, que após meus pais não conseguirem ter filhos porque minha mãe perdia em abortos espontâneos, uma gravidez acabou vingando, a gravidez da qual nasci. E um dia eu iria dizer àquela mãe que não queria mais viver... os filhos são foda algumas vezes nesse mundo dos humanos.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência.

De acaso em acaso fui vivendo. Imaginem, depois de uma adolescência dura num país miserável e violento, percebi após os trinta anos que a cor branca de minha pele fez a diferença nas estatísticas, os jovens pretos e pardos morriam em número muito acima da média nas estatísticas das mortes de brasileiros. Os de pele branca já nasciam “com o cu pra lua” por causa da cor da pele. Minha irmã negra sobreviveu, mas comeu o pão que o diabo amassou. Nunca saberei o que uma pessoa preta sofre por causa da cor da pele.

Foi por acaso que escolhi o Banco do Brasil e não a CET ao passar nos dois concursos ao mesmo tempo no início dos anos noventa. O fato de ter sido bancário por dois anos no Unibanco e o fato de a jornada de trabalho ser de seis horas fizeram toda a diferença. Eu me lembro que odiava trabalhar, trabalho para mim era a lembrança de humilhação e cansaço e falta de tempo para fazer o que eu gostaria de fazer. Voltei à categoria por acaso.

Foi por acaso que aconteceu tanta coisa na minha existência que ficaria aqui, de vereda em vereda, avaliando os caminhos que trilhei e fui sobrevivendo.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência

Foi por acaso que virei sindicalista, foi por acaso que escolhi fazer Letras após um amigo do Banco do Brasil me convidar para assistir aulas de ouvinte na USP. No entanto, foi com muito esforço que estudei pra passar na Fuvest. E foi com escolhas difíceis que priorizei a representação sindical em prejuízo do curso de Letras.

Foi por acaso que entrei numa faculdade de Educação Física, me apaixonei pelo curso e não pude terminar porque não tinha dinheiro para pagar a mensalidade. Uma das maiores tristezas da vida. Nunca me esqueci das aulas de anatomia, biologia, da turma e do contexto que me levou à faculdade.

Foi por acaso que vivi amores, esses acasos, os do coração, são os melhores acasos da vida humana. Foi por acaso que me tornei pai. Foi por acaso que me humanizei e a fúria diminuiu.

Foi por acaso que viajei e fiz as melhores aventuras de minha vida. Sempre o acaso colocou uma vereda que me levava à natureza, ao rapel, à cachoeiras, cavernas, ao paraquedismo, aos acampamentos e regiões de mato – que adoro -, às praias e biomas diversos.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência

Foi por acaso que conheci a Itália e a Espanha. Foi por puro acaso que me peguei nos Estados Unidos a trabalho. Foi por acaso o convite para ir a Cuba.

Por acaso fiz a habilitação em espanhol. Me encantei com a língua durante o Ciclo Básico. Entrei na USP pensando em fazer inglês. Aliás, aprendi a falar inglês para o gasto porque queria ir embora do Brasil como muitos jovens queriam na época.

Foi por acaso que me humanizei num dos momentos mais duros da vida, tempos de fúria, tempos de revolta. Aí virei sindicalista e a formação política me salvou, talvez tenha salvo a sequência de minha existência após os trinta anos.

 

Por puro acaso cheguei aos cinquenta e cinco anos de existência.

Foi por acaso que entrei como cotista numa cooperativa e comprei a tão sonhada casa própria, um apartamento em Osasco.

Foi por acaso que passei a vida ouvindo mais música estrangeira do que música brasileira. Não posso me culpar por isso. Minha origem foi diferente da origem da maioria dos sindicalistas que conheci. Enquanto muitos cresceram em ambientes de militância, eu vivia num bairro miserável na adolescência sem ninguém de esquerda na família.

 

Acasos e esforços... e agora?

Passei o dia do aniversário pensando na vida, no passado que não me pertence, no futuro que não existe, só se eu acordar amanhã, e no presente, que passei pensando na vida no dia 3 de abril, pensando nas veredas que trilhei, nas que não pude trilhar, no que fiz e no que não fiz. Na lista do que queria e não quero mais.

Lembrar de tantos acasos na minha existência não diminue meu esforço honesto e muitas vezes quase impossível para superar as merdas da sobrevivência que quase nos fazem desistir de seguir. A partir dos acasos, tenho a clareza que teve muito esforço de minha parte, muito. Não me diminuo. Sei o meu valor.

 

Sei do esforço de voltar à construção onde passei a manhã quebrando concreto no primeiro dia de ajudante de encanador. Sei do esforço de não desistir quando tinha que furar aquelas latas de palmito podre.

Sei do esforço de não desistir quando o cansaço me fazia chorar e eu seguia. Fiz o que tinha que ser feito desde muito jovem. Passar em vestibulares de faculdades privadas e públicas, concursos públicos, todo guaraná em pó que tomei pra ficar acordado teve sua importância.

 

E sei que por ser branco tive vantagem em relação aos meus pares da classe subalterna à qual pertencíamos, classe trabalhadora explorada. Minha irmã sofreu as consequências da falta de oportunidade por ser negra. E as mulheres sempre foram preteridas por serem mulheres, tive vantagem nisso também. No Brasil, já é sorte nascer homem e branco por causa de nossa história violenta e miserável. Absurdo isso! Sorte ou azar por ser homem ou mulher, branco ou preto...

Me lembro da dona da escola de idiomas onde trabalhei me dizer para não contratar mulher porque mulher só dava dor de cabeça, menstruava, tinha enxaqueca, filhos, faltava muito etc. Dona Glória não era uma mulher naquele contexto, era uma capitalista. E o gerente do BB que me fez aprender serviço de funcionário sendo eu estagiário porque ele dizia que não iria ensinar nada para a colega do banco porque ela era mulher... que safado fdp!

 

Eu não posso escrever tudo o que pensei durante o dia. Não posso escrever muita coisa que penso, que sinto ultimamente, neste momento.

Nunca imaginei na minha vida, quando olho para trás, quando me vejo antes dos vinte, entre os vinte e os trinta, e até depois disso, mesmo tendo mudado como ser humano, nunca imaginei chegar aos 55 anos de idade.

Espero ter vivido dignamente a maior parte de minha existência, de ter feito coisas boas e de não ter feito merdas que tenham prejudicado pessoas. Se prejudiquei alguém, peço desculpas.

 

Sem pertencimento

Estou num momento de reflexão e de procura, algo muito pessoal, de muita solidão. Mas sou politizado e a consciência me ajuda hoje a seguir adiante. Tenho uma leitura pessimista do futuro da humanidade, mas não é algo determinista, que imobilize a ponto de deixar as coisas como estão.

O ser humano é um animal fantástico e poderia e pode mudar as coisas de uma hora para outra, se quiser e se realizar um conjunto de coisas. Educação pode mudar as pessoas e as pessoas mudarem o mundo. Como diz Paulo Freire, só se educa gente!

Minha mente está como um caleidoscópio de imagens e coisas. Eu poderia fazer muita coisa pela experiência que adquiri nesta caminhada de 55 anos de acasos e esforços. Poderia, mas percebi que o melhor que fiz, por acaso, foi ser sindicalista dos bancários. Me perdi depois disso.

Não sei se farei alguma coisa ainda. Mas estando por aqui, estou cuidando dos meus. E não fazendo mal a ninguém, espero.

william


terça-feira, 2 de abril de 2024

Vendo filmes (XV)


 

Refeição Cultural

Sem atitude e engajamento pessoal daquelas e daqueles que se importam com a vida, com o planeta Terra e com algo mais além de si mesmos, vamos perder a batalha que se trava neste momento na natureza


Os três filmes que comento abaixo são oportunidades para grandes reflexões de seus telespectadores. Eu demorei para escrever essa postagem por causa da dificuldade de colocar em poucas palavras algo pessoal que avalio valesse a pena comentar.

Dois dos filmes são apocalípticos, nos fazem ver e imaginar o fim do mundo, se não o fim do mundo como estamos acostumados no cotidiano, o fim de um mundo recheado de ilusões que nos cegam sobre a realidade caótica ao nosso redor e que ninguém para pra pensar. 

O que faz uma pessoa poder andar pelas ruas, pelo mundo, entre estranhos, tendo uma certeza ou sensação de que está segura e nada vai acontecer a ela pelo simples fato de encontrar-se com um estranho? 

Respondo: a sociabilidade humana, a solidariedade e o respeito ao outro como um ser que tem direitos humanos básicos como o direito à vida, assim como os familiares desse estranho e seus grupos de afinidade. E as leis e direitos nacionais e internacionais. Esse direito não é natural, não é da natureza, é uma criação e só se realizará e se manterá se for preservado por nós.

A fase atual do capitalismo com sua consequente produção de miséria para a quase totalidade da espécie humana está fazendo com que desapareça a conquista social construída coletivamente por milênios de podermos viver em meio a estranhos, com direitos humanos minimamente estabelecidos e pactuados por todos, direitos que nos dão uma espécie de sensação de não sermos ameaçados por n motivos só por estarmos em lugares estranhos e com pessoas que nunca vimos na vida.

As corporações capitalistas e os homens por trás delas são responsáveis por modificar a espécie humana em outra coisa, em outro tipo de animal, e isso está acontecendo de uma forma acelerada como nunca houve nesta curta passagem do homo sapiens pela Terra. Ao nos coisificarmos no capitalismo, ao sermos coisas com valores de uso e não uso - mercadorias -, nossas vidas passam a ter níveis de importância, umas valendo mais e muitas valendo nada, podendo ser eliminadas.

Os filmes comentados abaixo me fizeram pensar do passado familiar ao presente e futuro coletivo. Os filmes não tratam da temática "capitalismo", mas podem ser pensados como cenários possíveis por causa dessa forma de nos colocarmos no único lugar no universo onde há condições para abrigar a multiplicidade de vidas que há aqui na Terra. Lugar que está sendo destruído por nós a partir do modo capitalista de utilizar a natureza.

Gosto de filmes assim. Sigo refletindo. E me esforçando para tentar fazer mais pessoas refletirem sobre a atualidade e a tendência ruim para onde estamos indo. Faço isso atualmente através de meus textos.

Abraços,

William Mendes

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FILMES

A Estrada (2009) - Direção: John HillCoat. Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy. Com: Viggo Mortensen, Kodi-Smit-McPhee, Charlize Theron. 

Sinopse: num mundo pós-apocalíptico, quando de uma hora para outra a natureza colapsou, pai e filho pequeno tentam sobreviver pela estrada com a esperança de alcançar o Sul dos Estados Unidos indo para o mar.

Comentário: é um dos filmes distópicos mais impactantes que já vi. Relutei em rever porque a estória é foda demais. 

O que seria mais factível num mundo colapsado? Zumbis atacando pessoas ou pessoas sobreviventes atacando pessoas? Seria possível haver pessoas boas e solidárias ainda num cenário desses? 

Eu não sou muito fã de filmes de zumbis porque achava a ideia muito irreal. Não acho mais! Não acho, pois agora imagino o sentido metafórico de zumbis... as redes sociais e a manipulação de pessoas pelos algoritmos é uma realidade que está aí. Sob certo ponto de vista, estou cheio de zumbis ao meu redor, e eles podem me atacar como nos filmes, é só acionarem o apito de cachorro para esses zumbis agirem... quem diria que esse dia distópico chegaria...

O filme A Estrada não é dessa espécie de cenário distópico como no filme Guerra Mundial Z (comentário aqui), o filme retrata outro tipo de cenário apocalíptico. A natureza no planeta Terra colapsou de uma hora para outra e as condições de vida no mundo se tornaram inviáveis. Plantas e animais morreram. O que seria dos seres que ainda vivem enquanto houver o que comer? Por algum tempo, os sobreviventes vão procurar comidas estocadas, enlatados. E depois? O filme nos coloca neste cenário. É pavoroso!

Eu me senti entrando num cenário parecido com o do filme quando li o livro-denúncia de Eliane Brum - Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia centro do mundo (comentário aqui). Também é desesperador o que a jornalista nos conta. A natureza está sendo destruída de forma acelerada... foda isso! 

Amig@s, a natureza está morrendo assassinada por nós, a espécie humana. Enquanto escrevo esta frase me arrepio por clamor da consciência... Estamos causando uma extinção em massa, os mares e rios estão fervendo e não será possível a manutenção dos seres vivos nesses ambientes dessa forma. Estamos destruindo os biomas naturais que ainda existem por ganância, por falta de alternativa para a manutenção da vida de forma mais sustentável e ecológica. Devemos interromper o capitalismo se quisermos ter uma chance. 

Afirmo: - Socialismo ou o fim da vida humana!

O que mais me apavorou no filme A Estrada é que estamos caminhando para aquele cenário e nós podemos fazer algo agora, já, e não percebo que vamos agir para interromper o fim. E o ser humano é de uma inteligência extraordinária, com capacidade para criar soluções para nos salvar... mas teríamos que querer isso e formar maiorias para mudarmos o presente e sonharmos com um futuro alternativo.

Faremos isso? Você, amig@ leitor(a), está ao menos se preocupando com isso? Sem o envolvimento e engajamento pessoal daquelas e daqueles que se importam, vamos perder essa batalha pela manutenção da vida na Terra.

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O Castelo de Vidro (2017) - Direção: Destin Daniel Creton. Com Brie Larson, Woody Harrelson, Naomi Watts e elenco.

Sinopse: filme baseado em fatos reais retrata a vida da família da jornalista Jeanette Walls, de pais libertários, a mãe pintora (Watts) e o pai (Harrelson) um faz tudo muito inteligente, e alcoólatra. As crianças tiveram que cuidar umas das outras ao longo da infância e adolescência.

Comentário: um filme que faz o espectador pensar na vida. A história da família Walls provavelmente toca cada pessoa em alguma reminiscência que ela tenha da família e do passado. Durante o filme, pensei no meu tio que acabou perdendo a vida para o alcoolismo, um cara muito inteligente, gente boa pra caramba, e que acompanhei o processo de sua derrota para o álcool, até a própria família não aguentar mais. A habilidade de fazer coisas diversas do pai de Jeanette me lembrou meu próprio pai, inventor de chuveiro de água quente com canos de PVC aquecidos pelo sol e tudo quanto é coisa inventada em casa. Me lembrou um pouco a infância porque me recordei de primos e primas sozinhos se virando desde pequenos. Como disse, a história da família Walls deve tocar em cada espectador de forma pessoal, pois muitos de nós temos histórias de família com aquelas situações que vimos ali. Gostei do filme! Gostei do desfecho da história.

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Apocalipse Now (1979) - Direção: Francis Ford Coppola. Baseado no livro de Joseph Conrad "Heart of Darkness". Roteiro de John Milius e Coppola. Com: Marlon Brando, Martin Sheen, Robert Duvall, Laurence Fishburne, Dennis Hopper, Harrison Ford e elenco. 

Sinopse: filme retrata a Guerra no Vietnã. O Capitão Benjamin Willard (Sheen) das operações especiais dos EUA recebe a missão de encontrar e exterminar o Coronel Walter E. Kurtz (Brando) porque o governo norte-americano entende que Kurtz se tornou um renegado e enlouqueceu tendo um exército próprio que o trata como um semideus. Ele se encontra nas florestas do Camboja e Willard deve seguir até lá pelos rios com uma pequena embarcação e tripulação restrita.

Comentário: revi Apocalipse Now dias atrás e o filme é espetacular! A ideia da loucura é a chave para entender a questão das guerras do passado e do presente. Mas não só a ideia da loucura, mas a da razão também. Por trás de uma guerra há método, há cálculo, há homens com desejos de poder e vaidade sem preocupação alguma com qualquer pessoa, comunidade e com a natureza. A guerra é uma ação humana, demasiadamente humana!

Como são marcantes as cenas mais icônicas de Apocalipse Now

- A chegada dos helicópteros norte-americanos com alto-falantes tocando "Cavalgada das Walquírias", de Richard Wagner, ao vilarejo vietnamita e em seguida o bombardeio arrasando mulheres, idosos e crianças... tudo isso para liberar a praia para uns fdp surfarem... 

- O jovem negro dançando "(I Can't Get No) Satistaction", dos Rolling Stones, no pequeno barco subindo o rio rumo ao Camboja, em busca do Coronel Kurtz... depois o que os jovens norte-americanos fazem com pescadores vietnamitas no rio...

- Os momentos embalados pela trilha sonora "The End" do The Doors... (Puta merda! Demais). 

- O silêncio e o suspense na mata ao se procurar mangas e ao invés de um soldado vietnamita dar de cara com um tigre...


ELES, SEMPRE ELES - Fiquei pensando nas razões da guerra no Vietnã e na loucura daquela guerra, do genocídio daquele povo, Napalm... Evidente que as imagens se multiplicam na mente e nos trazem os Estados Unidos da América como o causador de todas as guerras da modernidade, todas as tragédias humanitárias dos últimos dois séculos, eles, sempre eles, aqueles que se definiram como os donos do mundo... massacre dos palestinos com anuência deles, Ucrânia e Otan procurando a 3ª guerra em solo europeu com eles por trás, a miséria material da ilha cubana pelo bloqueio imposto por eles, as guerras de destruição em massa no Iraque, Líbia, Afeganistão etc para assentar uma empresa de petróleo em benefício da Roma atual... Que merda tudo isso! O golpe no Brasil por causa do Pré-Sal, hoje entregue a eles... Até quando? Quando essa Roma cairá definitivamente? Sei que vão cair atirando, mas uma hora esse império decadente vai acabar. Nada é para sempre!

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A postagem anterior desta série sobre filmes pode ser lida aqui.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Língua Espanhola I - Ano 2002 (II)



Refeição Cultural

Revisita aos estudos de graduação na FFLCH-USP


Folheando um pouco a apostila do primeiro ano de estudos de idiomas, achei interessante rever o fenômeno do Yeísmo na Língua Espanhola.

Para deixar uma referência atual, cito abaixo a definição do fenômeno do dicionário da Real Academia Española (RAE):

Yeísmo - 1. m. Fon. Desaparición de la diferencia fonológica entre la consonante lateral palatal y la fricativa palatal sonora, de manera que, en la pronunciación, no se distinguen palabras como callado (silencioso, reservado) e cayado (bastón, palo).

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Na apostila, tem uma seção inteira dedicada ao tema. Transcrevo o texto abaixo para fins didáticos.

LL - Y (delante de vocales)

La pronunciación de los fonemas representados por la LL e por la Y (esta con vocales) se hace distintamente en el mundo hispánico.

a) Distinción entre LL / Y: la LL se pronuncia como la LH del portugués y la Y con un sonido consonante. Algunos hablantes de España y de buena parte de América (sobre todo del altiplano andino) distinguen la pronunciación de estos fonemas, pero actualmente hay una fuerte tendencia a igualarlos.

b) El yeísmo: consiste en igualar la pronunciación de la LL a la de Y. El yeísmo está muy difundido en Hispanoamérica, aunque presente diferencias, por exemplo: en la región del Río de la Plata, la LL/Y suenan como la J del portugués, en Chile la pronunciación de estos fonemas es más suave que la pronunciación rioplatense y en el Caribe la pronunciación de la LL/Y se aproxima de una I. En España el yeísmo se está imponiendo a la distinción LL/Y.

Según Manuel Seco, el yeísmo existe hoy en España (ou seja, 2002): en toda Andalucía, en Murcia (sólo en las ciudades), en Extremadura, en Castilla la Nueva (principalmente en Madrid, Toledo y Ciudad Real), en Castilla la Vieja (Ávila, Valladolid), en Cantabria (Santander), en León (Salamanca, capital), en Asturias (Oviedo y Gijón), en Cataluña (Cuencas del Ter y Llobregat) y las Islas Baleares y Canarias.

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COMENTÁRIO:

Como falante de língua portuguesa que aprendeu língua espanhola, posso dar o depoimento de experiências locais ao ouvir falantes de espanhol.

Já estive em Madri e Toledo, na Espanha. Já estive também no Chile, Argentina, Uruguai e em Cuba. Por ter estudado o idioma, fiquei atento aos falares nessas regiões.

De fato, na Argentina e Uruguai é muito claro o Yeísmo com som de J ou CH do português. No Chile é bem suave a pronúncia. Em Cuba eu consegui perceber o som mais próximo ao I. E a fala dos espanhóis de Madri é bem mais "cantada" em relação às falas dos hispano-americanos.

O estudante de espanhol precisa treinar o ouvido para os diversos "acentos" dos falantes da língua.

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LA "LL"

CALLE  VILLA  LLORAR  LLUVIA  CALLISTA  ESTRELLA

No hay pueblo como mi pueblo,

ni valle como mi valle,

ni casa como mi casa,

ni calle como mi calle.


La chiquilla, con la lluvia, a la villa lleva la llave.

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LA "Y"

AYUDAR    YERNO    YA    YO    YUGULAR    HOYO

Ya viene mayo, mayo,

Ya viene el rumbo,

Ya viene la alegría

pa todo el mundo.


¡Ay, mal haya, mal haya

mi cobardía,

que por ser yo cobarde

no eres tú mia!


El yerno del yegüero da yerba a la yeguada.


Referências: Valmaseda Regueiro, 1992.

Textos y grabaciones adaptados de BRUNO, Fátima C. & MENDOZA, Maria Angélica. Hacia el español 1. São Paulo, Saraiva. Unidad 8, Hacia Letras y Sonidos.

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Tradución:

Yerno: genro

Yegua: hembra del caballo

Yerba: erva, capim

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A primeira postagem deste tema pode ser lida clicando aqui.

William


Fonte: Apostila da Faculdade de Letras/USP, 2002.


domingo, 31 de março de 2024

Diário e reflexões - Março



Refeição Cultural - Março

Osasco, 31 de março de 2024. Domingo, fim de noite.


O que marcou o meu mês de março?

A cada dia que passa vejo o quanto meu blog contribui de alguma forma para minhas reflexões e aprendizagem sobre os mais diversos temas da cultura e saber. 

Quando estou na produção de um texto, contribui na pesquisa que faço para não escrever algo incorreto ou sem sentido; quando estou relendo textos passados, contribui na avaliação que faço se ainda penso daquele jeito ou se minha percepção do tema mudou ou evoluiu. 

Hoje, gostaria de ter uma coletânea de pensamentos meus anteriores à criação do blog. Eu tenho muitos textos escritos e perdidos pela casa, textos que procuro e não acho. 

Ao ver que meus textos ainda são lidos por muitas leitoras e leitores, mais responsabilidade tento ter a cada postagem que faço.

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MARÇO

Pensando sobre o que de fato aconteceu ou não aconteceu e poderia ter acontecido e que tenha alguma relação comigo neste mês de março, de imediato penso na questão dos 60 anos do golpe de 1964, nas eleições da Cassi, na minha participação no planejamento de uma importante autogestão em saúde, nas mídias que vi ou li e que me trouxeram conhecimentos e ou visões novas sobre a existência.

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1. 60 ANOS DO GOLPE DE 1964

Acabei de voltar da 4ª Caminhada do Silêncio - 31/03, 60 anos do golpe militar de 64, para que não se esqueça, para que não continue acontecendo -, manifestação em São Paulo que se concentrou no antigo DOI-CODI/SP, na Rua Tutóia, e caminhou até o Monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos, no Portão 10 do Parque do Ibirapuera. Foi uma manifestação marcada por muita emoção e indignação. Fico feliz de poder ter participado!

Esse tema da história do Brasil marcou o meu mês de março. Eu fui uma das pessoas que se chateou com Lula e que até agora tenta fazer os cálculos a respeito da tomada de decisão do nosso governo de não aproveitar a data dos 60 anos do golpe para homenagear as vítimas da ditadura e reforçar a fé na democracia, golpe que afundou o país e a vida do povo por décadas num regime de exceção com violência do Estado, morte de opositores e censura.

Lula é um gênio da política, um estadista, um democrata e um pacifista, Lula é minha referência desde que passei a votar e desde que virei dirigente sindical e estudei a história do movimento cutista e petista. Dito isso, afirmo que sigo apoiando e confiando em nosso líder. Um presidente de um país tem muito mais informações que nós, muito mais! Lula deve saber o que está fazendo.

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2. ELEIÇÕES NA CASSI

Neste mês de março ocorreram as eleições para renovação de parte da direção e conselhos de nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi).

A diretoria de planos de saúde e as vagas do conselho deliberativo tiveram três chapas concorrentes, o mesmo para as vagas do conselho fiscal. O resultado das eleições foi divulgado no último dia 25 de março.

Essas eleições na Cassi mexem comigo. Eu fui gestor eleito da autogestão e passei a ter um sentimento de amor pela Caixa de Assistência desde que lá estive. Eu mergulhei por quatro anos na história e no fazer-saúde da associação de uma forma sem retorno. A Cassi passou a ser para mim uma mãe, uma filha, uma relação do coração. Sofro sempre que acho que a Cassi poderia estar melhor.

A chapa eleita foi a chapa organizada pelo nosso sindicato de base, o sindicato ao qual tenho uma relação de mais de três décadas de vida bancária. Apesar de ser um sindicalizado e de ter sido diretor da entidade sindical por 4 gestões e de ter sido diretor eleito da Cassi, a direção do sindicato optou por não ouvir a minha opinião sobre as eleições Cassi em 2020, 2022 e agora. 

É uma opção da direção, principalmente do Coletivo BB, do qual faço parte de sua história. Pelo papel que desempenhei como dirigente nacional da categoria, da corrente política e do próprio fórum, poderia questionar a conduta, internamente. Mas não é de minha personalidade fazer isso, jamais faria.

Nestas eleições da Cassi, uma das gestoras eleitas é uma das responsáveis pelas mentiras (fake news) inventadas contra mim em carta assinada em redes sociais desde os primeiros meses de trabalho em 2014. Ela faz parte de um dos principais grupos políticos à direita no movimento da comunidade BB. As mentiras inventadas por ela foram as mesmas usadas em carta anônima usada num lawfare contra mim. 

Desejo sucesso à nossa Caixa de Assistência, pois a Cassi é responsável pela vida de mais de meio milhão de pessoas.

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3. COMPARTILHANDO CONHECIMENTOS DE GESTÃO EM SAÚDE

Meu mês de março foi marcado também pela participação no planejamento estratégico de uma importante autogestão em saúde, a Unafisco Saúde do Sindifisco Nacional, Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil. 

Eu tenho um compromisso ético com a classe trabalhadora à qual faço parte: compartilhar todo o conhecimento e experiência que adquiri ao longo da vida, principalmente durante meus estudos como dirigente sindical dos bancários e, na medida do possível, de forma gratuita. Este blog é uma ferramenta utilizada para isso, compartilhar o que sei e minhas opiniões sobre as questões da sociedade humana.

Ao ser convidado para compartilhar a experiência de ter sido gestor de uma autogestão em saúde dos trabalhadores, tratei logo de acertar qual seria a melhor forma de contribuir. E deu tudo certo, fui acolhido pela direção do Sindifisco e suas equipes com carinho e respeito. Fiquei encantado com o trabalho que eles estão realizando lá. Desejo muito sucesso a eles.

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4. MÍDIAS DE CULTURA

O mês de março também foi um mês de aquisição de conhecimentos, de estudos e de novas formas de pensamento. 

Após visitar Cuba novamente em fevereiro, e estar em contato com Frei Betto, passei a ler um pouco a respeito do grande intelectual dominicano e passei a ler sua obra também.

Neste mês de março, consegui ler umas 150 páginas da biografia que tenho de Frei Betto. Já li o primeiro livro dele que trouxe e vou ler três obras do dominicano nos próximos meses.

Vi filmes que me deixaram pensativo neste mês. Tenho escrito comentários no blog sobre filmes que mexem comigo. 

Como disse, ao utilizar o blog para escrever sobre livros, filmes, revistas, estudos que faço, acabo desenvolvendo saberes novos e autocrítica. Até os animes que tenho visto com esposa e filho têm me trazido reflexões interessantes.

É isso. Sigamos estudando diariamente.

Encontrei muitas respostas para questões que pautaram buscas de décadas de meu viver. Estou pensando em novos questionamentos para seguir com minhas buscas.

Agora, busco mais conhecimento e busco motivos para seguir. Os laços familiares são os motivos mais fortes para seguir neste momento. 

Quero mais motivações, as coletivas.

William