terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago


Imagem do filme

Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

CLÁSSICO PORTUGUÊS de 1995

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” (livro dos conselhos)


Reli a obra de Saramago dias atrás principalmente pelo fato de Fernando Meirelles ter feito o filme baseado nela.

Sempre preferi a arte das Letras em relação às demais. Sempre apostei muito no efeito da leitura de alimentar a mente e a imaginação. A imagem na leitura é sempre a cria subjetiva e insubstituível do leitor.

Bom, quando li o Ensaio em 2003 fiquei impressionadíssimo. Poucos livros me abalaram tanto. Mas, como o mesmo leitor é sempre outro no dia de amanhã, resolvi relê-lo antes de assistir ao filme.

É impressionante! A releitura me deixou novamente tocado. Me peguei a todo instante olhando ao meu redor e imaginando por quê que as pessoas não veem!


Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem


Vejo o que estamos fazendo com o mundo, inquilinos que somos nele - como diz Luis Fernando Verissimo, e penso se teremos que ver “acordar a imunda e rastejante besta do pavor” alimentada pelo remorso tardio, como aconteceu ao ladrão do automóvel do primeiro cego.



(COMENTÁRIO em post scriptum 30.6.10: Acabei de ler a frase acima e fiquei muito tocado por ela. Estou nervoso neste instante e tenho receio que seja aquela besta ali acima... por tudo que foi e que não foi de minha vida)


Outra reflexão profunda que lembrou-me a nossa elite branca, conservadora como poucas no mundo (incluo aqui nossos principais banqueiros), é aquela percebida pelo médico cego ao ser destratado por um funcionário de um órgão que presta serviço público:


é desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade


As reflexões do narrador de Saramago e as falas de seus cegos dizem mais que qualquer comentário eventualmente feito por nós, leitores. É por isso que jamais uma crítica ou análise de uma obra substituirá a leitura da própria obra.

Vejam o caso Daniel Dantas, que parece ser intocável com sua rede de compras de consciência do Oiapoque ao Chuí. Ou dos banqueiros e capitalistas oligopolistas que fazem do mundo um Shopping Center onde o que vale é o poder de consumir e não essa “bobagem” de dividir riqueza com quem a produz e respeitar os direitos trabalhistas e humanos. Só reparando mesmo, assim que pudermos ver, é que faremos mudanças.

Deixo aqui algumas frases que nos lembram da nossa cegueira e a tentativa atroz de nos fazerem cegos como ocorre cotidianamente conosco, cidadãos eleitores e trabalhadores do mundo.


quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira


se queres ser cego, sê-lo-ás


o medo cega”, disse a rapariga dos óculos escuros, “são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuarmos cegos


alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores


dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos


costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras


Bom, estreia no Brasil esta semana o filme de Fernando Meirelles. Estou na expectativa de ser um bom filme. Se ele trouxer a catarse que o livro traz, já terá valido a pena para o público cinéfilo.


Comentários dizem que Saramago gostou da interpretação feita por Meirelles.

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Post Scriptum (pós filme): 


Achei o filme bem adaptado. Gostei!

Assim como a história pode nos deixar desiludidos com a natureza humana, ao mostrar em que podemos nos transformar, também nos abre a perspectiva de que podemos fazer as coisas diferentes. Acredito que podemos olhar, e olhando ver, e vendo, mudar.


Aqui, temos uma imagem do mestre Saramago, após assistir ao filme de Meirelles:



Um comentário:

Stefani disse...

Tio William...
Eu estou com um exercício do PRE-PAAES pra fazer sobre Camões
A pergunta é: Qual aimportância do uso de valores mitologicos para o canto "A ILHA DOS AMORES"?
Eu acho que é para dar mais enfaze no poema e exaltar os acontecimentos...Mas não estou segura daminha resposta...O que você acha!!
Se você souber se minha resposta está certa me manda um recado, pode ser no orkut